quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Coronelzinho


Coronelzinho foi um menino engraçado. Não, não fazia graça, nem sei se tinha bom humor. Quase não falava, quase não sorria, vivia meio alheio a tudo, como se aquele mundo em que estávamos não fosse o mesmo que o seu.
Embora fosse circunspecto e taciturno, quando chegava, chamava atenção. Tinha o porte, a elegância, a beleza de um príncipe que nunca se misturava aos plebeus.
Não me lembro de uma única vez que tenha participado das nossas brincadeiras. No intervalo das aulas, nos parcos 20 minutos que tínhamos, ele estava sempre sentado na mureta, naquele mesmo lugar. Era como se lá estivesse seu trono, onde ele, em sua majestade, observava a plebe saborear o pão e se divertir no circo que virava o pátio nessas horas. Nós éramos felizes e sabíamos. E ele, era feliz? Talvez o fosse, dentro do seu mundinho particular.
Não estou aqui para julgar. Creio que nunca ninguém conseguiu saber quem era de verdade o tal Coronelzinho. Tanto ele poderia ser um menino pobre como um pobre menino. Um menino pobre, que inconformado não queria que ninguém soubesse da sua real situação. Ou um pobre menino preso dentro de si mesmo, sabe-se lá por qual motivo.
De vez em quando, quando me lembro do Coronelzinho, eu o vejo vestido como um abastado fazendeiro: botas de couro caprichosamente lustradas, camisa impecavelmente branca, colete com um relógio de corrente e chapelão. É uma bela visão. Igualmente chama atenção. Um homem de respeito, olhar duro, cara fechada, mandão.
Quem sabe um dia, nessas voltas que a vida dá, eu tropece naquela figura e finalmente descubra o que vai em seu coração
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Lilia Maria

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