quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Escolhas

Escolhe o curso d'água
Pedra que queria rolar
Em vez de ficar ali plantada,
Na margem, bem colocada,
Vendo o rio passar.
Foi ao fundo
E agora mora no leito,
Vê a luz sendo filtrada,
Mas não sente o sol esquentar.
Não lamente da sua sina,
Deixe o tempo passar.
Um dia, cheia de limo,
Com as arestas aparadas,
Você deixa este lugar.

Lilia Maria


Chuva fria

A chuva cai mansa,
As gotas dançam no ar.
Olho através da vidraça
A rua brilhando,
Os guarda-chuvas passeando,
Os carros passando,
A cortina de água se formando
E eu aqui quentinha,
Enrolada no meu cobertor.
Chove lá fora,
Chove aqui dentro.
Os pensamentos embotados
Parece um grande emaranhado
De coisas que ficaram pendentes
Na minha preguiça de resolver.
Quem sabe assim molhados
Fica mais fácil de serem penteados,
Como uma vasta cabeleira rebelde
Que nunca para no lugar.

Lilia Maria

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Liberdade proibida

O pássaro que foi solto do viveiro,
Não acostumado com a liberdade,
Acabou sendo preso por gosto
Em uma pequena gaiola.

Lilia Maria


Estou aqui

Quando me sinto sozinha
E os amigos vou procurar,
Existe duas pequenas palavras
Que sempre gosto de escutar.

E, quando um amigo
No meu ombro vem chorar,
As mesma palavras me veem à boca...
Tão pequenas e tão significativas...

Estou sempre aqui.

De mãos estendidas,
Olhos e ouvidos atentos...
Agora sou só atenção.


Ah! Que bom ouvir isto de alguém.
Que bom poder dizer também.


Lilia Maria

sábado, 27 de agosto de 2011

Folha solta

Folha da árvore caída,
Balança solta no ar.
Vai pra lá, vem pra cá,
Rola, voa, cai e torna a rolar.
Parece ter vida,
Pelo vento movida,
Até seu destino encontrar.

Então, já amarelecida,
No canto esquecida,
Fica a esperar,
Que a brisa sopre,
Que a chuva caia,
Que algo aconteça,
Para seu destino mudar.

Lilia Maria

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mais um engano

Como na cena do filme,
De repente o elo se quebrou.
E naquele momento
O redemoinho me tragou.

Quebrou-se o encanto,
Minh’alma se calou,
E espanto foi tanto,
Que meu coração quase parou.

Por mais que eu esperasse,
Eu não queria acreditar,
Que o sonho acalentado,
Estava na hora de acabar.

Faz de conta que estou bem,
Faz de conta que nada me afetou
Apesar desta mudança,
Continuo sendo quem sou.

Sigo em frente o meu caminho,
Não lamento meu engano,
Foi como se em um santuário,
Eu entoasse um canto profano.

Lilia Maria


O filme a que faço referência é " Em algum lugar do passado".
Este poema foi publicado pela primeira vez em 09/12/2002 no site Amor Antigo. Hoje talvez ela faça mais sentido.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tenho tempo

Em tempo
De dar tempo ao tempo,
Fico sem tempo
Para continuar a viver.

Coisa boba...
Mas sempre á assim.
Esperamos passar o tempo,
E de repente nos vemos sem tempo,
Então corremos atrás um tempo
Que já se foi, que findou.
Nos ocupamos tanto
Em buscar este tempo
Que até ficamos sem tempo
De perceber que a vida passou...

Lilia Maria

Em tempo: acho que sou exagerada, mas todo poeta é assim...

Boa tarde!

A tarde é um ensaio
Da noite que antecede.
Há tardes sonolentas,
Calorentas,
Preguiçosas.
Há tardes agitadas,
Atropeladas,
Chuviscosas.
Não importa!
É o fim do corre-corre,
Da lida do dia a dia,
Ou do "dolce far niente"
De férias improvisadas.
Feliz tarde nossa!
Tarde silenciosa
Ou muito barulhenta.
Que ela seja o prenuncio

De boas-novas e alegrias
Que a noite pode trazer

Lilia Maria

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Recadinho

Monalisa, 
Um dia ainda decifro este sorriso.
Não zombe da curiosidade,
Ele me intriga de verdade.

Lilia Maria

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Aceita uma reclamação?

Há gente que adora uma fila
Só para ter com quem reclamar.
Reclama da vida, dos filhos,
Reclama do motivo de aí estar.
Fala mal do governo,
Da situação e da oposição.
Se o da frente não deu importância,
Vira para trás e continua a falação.
A sogra vira assunto,
O pai, a mãe e o irmão,
Reclama da sorte e da vida,
Reclama do tempo, do santo, da amiga.
E se acabam os motivos para falar,
E não tem mais do que reclamar,
Mente e nem fica vermelho,
Ou reclama de si mesmo no espelho.


Lilia Maria

Diferenças

Eu espero a chuva
Para lavar a alma,
Você espera o sol
Para secar a cisma.


Eu espero a lua,
Paixão do meu poeta.
Você espera a estela,
Que cadente lhe traz sorte.


Não temos esperança
Da mesma natureza.
Eu espero o impossível,
Você espera a certeza.


Lilia Maria

domingo, 21 de agosto de 2011

Limpando o coração


Nada foi perdido,
Nada tenho que encontrar,
Mas procuro no meio do nada
O tudo que aí está.
Num apelo silencioso
Que varre o menor dos pensamentos,
Busco sentido para palavras
Que expressam a razão.
Em vão.
Era ferro em brasa,
Era vidro quebrado,
Ao alcance da minha mão.
O inútil foi ao lixo,
Coisas boas ficarão
Guardadas para sempre
Na caixa de nome ILUSÃO. 


Lilia Maria

sábado, 20 de agosto de 2011

Sombra e luz

Há quem vive na sombra,
Há quem vive na luz,
Eu vivo de um lado para o outro,
Para onde o momento conduz.

Na luz exalo energia,
Na sombra colho o que planto,
Não há ponto de parada,
Não sei viver num só canto.


Lilia Maria

Cinco sentidos

Ninguém me contou,
Vi com esses pobres olhos
Que não entendem a imagem
Que ficou colada na retina.


Ninguém me contou,
Escutei em alto e bom som
Palavras que pareciam desconexas
E ainda ecoam como um velho refrão.

Ninguém me contou,
Senti tateando com as minhas mãos
O morno, o áspero, o macio,
O contorno da obra inacabada.

Ninguém me contou,
Inalei o perfume que inebriou,
Mas acabou misturado a outros odores
Que moram na imaginação.

Ninguém me contou,
Degustei em pequenos bocados
Com medo que fosse acabar
Antes da fome saciar.

Sensações indescritíveis, únicas,
Que os cinco sentidos nos permitem ter
Fazem o retrato do mundo
Onde a palavra de ordem é VIVER.


Lilia Maria

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Pensamento do dia (18/08/2011)

Tem pressa? Vá devagar, mas a passos constantes.

Lilia Maria

O problema maior é a constância dos passos. Muitos imprevistos às vezes nos brecam no meio do caminho.
Nessas horas é preciso ter calma e paciência, resolver a pendência e retomar com fé e coragem.
O importante é termos claro onde queremos chegar e focar. Se for preciso corrigir os rumos, tomar atalhos, recomeçar, rever as prioridades, temos que fazê-lo sem medo, sem preguiça, com segurança e determinação.
Só assim conseguimos vencer a jornada a que nos propusemos no momento inicial.

Acordando

Barulho, minha gente!
Façam muito barulho,
Pois este silêncio é ensurdecedor.
Quero música,
Risadas,
Gente falando,
Um burburinho,
Uma festa!
Não quero mais escutar a mudez
De pensamentos sem razão.

Lilia Maria

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Depois da epifania

Alegria
É ver o sol brilhando
No meio da noite
Ou no meio do dia.

Alegria
Coisa boa de sentir
Depois de muitas lágrimas
E do sorriso ressurgir.

Alegria
Vou guarda-la como um dogma,
Como o bem mais precioso,
Como fonte de energia.

Lilia Maria

Achei um comentário muito interessante que tem tudo a ver com a alegria que aqui falo:
"Há velhos que não sabem envelhecer e, desprovidos da alegria e do amor à vida, e do emblema do convívio, destilam ódio, inveja e despeito, porejam calúnias e intrigas, bebem o fel do ostracismo e da obscuridade."
Folha de São Paulo, 06/08/2011

Em tempo:
Conheço velhos que não chegaram aos 40 e jovens que já passaram dos 60. Tudo é uma questão de estado de espírito.

Conto de inverno

Mesmo dentro de casa, enrolada na manta quentinha, sinto frio. Olho a lareira acesa, as brasas exalando calor e o suave perfume do pinho queimado. Fecho os olhos e me lembro de outros tempos, do fogão de lenha no canto da cozinha, do estalido da madeira seca, das panelas fumegantes e perfumadas, do cheiro bom do pão caseiro assado pacientemente para o prazer do paladar do meu avô. Vovó fazia tudo com amor.
De repente percebo que o frio não vem lá de fora. Ele está aqui dentro de mim. Dentro do meu coração vazio. Não adianta a manta, o fogo da lareira, a taça de vinho. Estou carente de emoção, mas as lembranças da velha infância, das férias passadas no sítio ou na casa dos meus avós, acabam aquecendo a alma.
Como era bom ser criança! Não havia preocupação com o futuro nem lembranças amargas do passado. Era só a alegria dos encontros em família, das noites de conversas infindáveis com meus primos contando as travessuras que fazíamos na escola.
Quantos segredos guardados! Éramos felizes e sabíamos.
Não, não somos hoje infelizes. Temos histórias para contar. Feliz daquele que viveu a vida de uma forma tão intensa. Acumulamos boas lembranças e amigos que nos acompanharão para sempre.
Sinto-me aquecida de novo. Já posso dormir em paz.


Lilia Maria

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Epifania

Vendaval, furacão, chuva grossa
E por fim, epifania.
O que foi esquecido volta à baila,
Sentimentos controversos de culpa e apatia.
O que foi perdido no tempo,
Cortado e recortado, distribuído e espalhado,
Reunido agora como colcha de retalhos,
Mostram a clareza do final anunciado.

Lilia Maria

domingo, 14 de agosto de 2011

Pai


Pai não precisa ser herói,
Mas não precisa ser bandido.
Precisa ser presente,
Precisa ser amigo.
Pai não precisa ser perfeito,
Mas tem que se comprometer com a verdade,
Precisa ser honesto,
Precisa ser decente.
Pai não precisa dar conselhos,
Mas não pode ser omisso,
Precisa saber observar,
Precisa saber falar,
Precisa saber calar.
Pai, cadê você?

Lilia Maria