sexta-feira, 29 de maio de 2015

Não tem jeito

 Eu tenho meu jeito de falar,
Meu jeito de andar,
Meu jeito de sorrir,
Meu jeito de amar.
E se não tem jeito,
Ajeitado está.
Se o meu jeito
Não combina com outro jeito,
Aceito.
Cada um é como é.

Lilia Maria

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Pradolina linda

Coça o cocuruto,
Faz um cafuné,
Né, né, né!
Ela fecha os olhinhos
Extasiada de prazer.
Se funciona com um bichinho,
Imagina com um humano?
Ô coisa gostosa,
Quem resiste a este carinho!


Lília Maria

Minha "netinha" de quatro patas é o máximo. Não importa onde esteja ela sempre vem pedir um chameguinho. Esta poesia foi pensada e depois escrita quando ela estava sentada ao meu lado no carro. Era só o transito parar que lá vinha ela pedir um carinho.

Intransitávelmente

Vocifera,
Esbraveja,
Gesticula,
Esmurra a direção,
Em vão.
Quando o trânsito para
Não há o que fazer.
Respira,
Relaxa,
Ligue o rádio,
Escolha uma boa música,
E deixe a alma voar.

Lília Maria

terça-feira, 26 de maio de 2015

Bem-te-vi

Não sei se o bem-te-vi me vê aqui,
Ou se aqui eu vejo o bem-te-vi,
Mas escuto seu canto contínuo
Dizendo que vê o bem,

O bem que eu vi,
Que mora aqui, ali,
Ou onde o meu bem está.

Bem-te-vi, eu vejo aqui
Aquilo que está ai.
Eu vejo sua plumagem macia,
Você vê o que eu não ainda não vi.


 Lília Maria

Dilema

 Não sei que estou indo em frente,
Ou se quem está atrás retrocedeu,
Mas vejo a distância aumentar.
E como tudo nesta vida
Depende de um ponto de referencia,
É isto que devo procurar.
Hoje sou mais um ser errante,
Que já viveu o bastante
Para não se intimidar
Diante de um dilema qualquer.


Lília Maria

terça-feira, 19 de maio de 2015

Presente já é passado

Quando o futuro se torna presente,
No instante seguinte já é passado.
E passa,

Passa depressa demais.
Quando nos damos conta,
E se pensamos com lógica pura,
Não há como viver o presente.
Viva o passado,
Mas viva contente.


Lília Maria

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Alegria de viver

 Se a alegria fenece,
Faça uma prece
E deixe a vida acontecer.
Ela volta, sempre volta.
Mas fique atento,
Pois a qualquer momento
Ela chega para se estabelecer.
Não deixe que ela escape
Por algum motivo à-toa.
Quando ela voltar,
Deixe ela ficar
Sem data de partir.


Lília Maria

terça-feira, 12 de maio de 2015

O livro proibido

ra ainda uma menina que mal havia aprendido a ler. Lembro-me da minha mãe sentada na beira de sua cama lendo um livro enorme, mais de 700 páginas. Ela estava tão envolvida com a história que nem reparava que eu, brincando a seus pés, parava de tempos em tempos e ficava contemplando curiosamente as suas expressões faciais durante a leitura. Haviam momentos que ela parecia enternecida, em outros seus olhos ficavam marejados, haviam momentos ainda que ela erguia as sobrancelhas, como que surpreendida com alguma situação. Às vezes balançava a cabeça em postura de negação. Foram dias e dias até que ela finalmente terminou a leitura.
O livro foi depositado no tampo do criado mudo esperançando a hora de ser devolvido para minha avó, a dona dele. Numa certa hora, ciente que ela estava lidando com os afazeres domésticos, abri na primeira página e comecei a vagarosamente, dentro daquilo que a minha inexperiência permitia, ler o primeiro parágrafo da tal história. O título eu já havia lido: As Duas Mães. De repente minha mãe entrou no quarto, tirou-me os livro das mãos, e com cara de brava falou: isto não é para você. Perguntei por que e a resposta foi o típico "porque não", encerrando o assunto. Mais que depressa foi devolvê-lo antes que eu pudesse fazer mais uma tentativa de saciar a minha curiosidade, agora mais do que nunca aguçada.
Algumas décadas depois, quando minha avó faleceu, ao encaixotar os seus livros e revistas, dei de cara com aquele volume tão grosso que se destacava dos demais. As folhas estavam amarelas, a capa meio caída, algumas folhas destacadas, típico de um livro muito manipulado. Pedi licença aos meus primos que me ajudavam na tarefa e o levei para casa.
Não li, devorei a história. Era um romance cheio de intrigas, suspense e muitas coisas que só poderias ser possíveis na cabeça fantasiosa de um escritor. Em linhas gerais a história contava de um garoto que fora roubado de sua mãe, ainda recém-nascido, e dado em adoção a um casal da alta burguesia inglesa. Anos mais tarde a mãe biológica se torna babá do garoto e o acompanha até a vida adulta. Ela sabia que era seu filho, mas tinha como provar. No fim da história, o menino, agora já um rapaz, descobre a sua origem, quem é o seu pai biológico, e fica feliz por ter tido na vidas duas mães amorosas e dedicadas. Enfim, a história que eu passei anos me perguntando porque não poderia ler estava conhecida. Tirando o fato do livro ser enorme, não havia nada demais em seu conteúdo.
Acho que o maior problema para minha mãe era ter no livro uma situação de uma mulher que se tornava mãe antes de se casar. Coisas da sua época...

 Lilia Maria

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Essência

Não sei se aquela porta
Escureceu porque envelheceu
Ou se assim nasceu.
O tempo muda as coisas
Para melhor ou para pior.
A porta pode ainda ser porta
Até virar lenha para o fogão.
Podem dela fazer janelas,
Uma mesa, um banco, um portão,
Mas continua madeira,
Mesmo tendo outra função.


Lília Maria

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Ouvindo o vento

E de repente o vento falava.
Contava da chuva fina
A história do seu viver.
Não era a água guardada
Nas nuvens que encobriam o céu.
Eram muito mais.
Eram as lágrimas de Deus.
Lágrimas de felicidade
Que fertilizavam a terra.
Lágrimas de emoção
Que levavam lembranças.
Lágrimas de decepção,
Que inundavam os rios.
Lágrimas, apenas lágrimas,
De um choro sem razão.
E o mundo se cobriu de flores.
E as calçadas ficaram limpas.
E os rios ficaram turvos.
E a vida continuou.
Assim eu também chorei,
Felicidade, emoção, decepção,
Motivos não faltaram,
Mas um dia as lágrimas secaram.


Lília Maria

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Ser ou não ser

Não era um romance para ser lido,
Não era um filme para ser visto,
Não era um quadro pendurado na parede.
Era vida entre outras vidas,
Era cor, sabor, perfume de flor,
Era segredo daquela menina,
Era um suspiro de amor.
O que passou despercebido,
Para os que julgavam ser timidez,
Foi o medo de se mostrar,
De não ser aprovada,
E muito mais de não se aprovar.
Pobre vida escondida,
Pobre vida que vai acabar
Sem saber se na verdade
Viveu ou sobreviveu.


Lília Maria

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Poetizando XXIII

 Esta São Paulo umedecida,
Pela garoa intermitente,
Me faz sentir saudade
Do calor do cobertor.
Mas, se como a cidade,
Não dá para parar,
Vou colocar meu melhor casaco,
Um gorro e um cachecol,
E com os pés bem aquecidos,
Lá vou, até que contente,
Para o que o dia mandar.


Lilia Maria