quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Covardia

Tem gente se acomoda
Por pura covardia,
Por medo de extrapolar

O que seria a zona de conforto.
Conforto? E se for tormento?
E vai levando a vida.
Não há pedras no caminho,

E se houver
Não sabe como transpô-las.

Aí sente e espera,
Pois um dia tudo há de se acomodar
Ou ao incômodo se acostumar.
E assim vai vivendo,
E fica lamentando

Que a vida está passando
Sem nenhuma emoção.
Se fosse menos covarde,
Correria atras dos sonhos.
Por certo enfrentaria batalhas,
Mas teria muita compensação.
Sempre é tempo de ousar

O rumo da vida mudar,
Deixar a covardia de lado,
E a felicidade ir buscar.
É trabalhoso, bem sei,
Mas vale a pena tentar. 


Lilia Maria

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Panelinha


Lendo o blog de um amigo da época do colégio, que acabou enveredando pelo mundo da política, de repente me deparei com uma fala muito conhecida. Ele contava que em ano político é sempre a mesma coisa. Candidatos saem à rua procurando o eleitor e lembrando a eles que a rua deles foi asfaltada; que a mãe foi atendida no hospital; que foi colocado luz em tal rua e por aí vai.
Certamente estes candidatos em outros tempos mal falam bom dia para um eleitor, aliás, nem mesmo se preocupam em caminhar pelas ruas e verificarem como andam as coisas ou do que os eleitores estão precisando. A maioria pode ser chamada de burocrata de gabinete e olha lá...
Essa leitura acabou me levando a uma história que aconteceu quando eu cursava o último ano da graduação da Matemática na USP. Não vou citar nomes, mas se algum colega da época ler, certamente lembrar-se-á do que falo.Todo anos era a mesma coisa... Chegava a época das eleições para o Centro Acadêmico lá pelo mês de outubro e o IME entrava em greve. Eu nunca ouvia falar que a greve era para que os melhores professores da casa dessem aula para nós (os melhores estavam sempre na Poli) ou que melhorassem as condições das salas da Reitoria Velha que era onde tínhamos aulas. A greve era sempre deflagrada pelo fim da opção interna.

Para quem não sabe, quem prestava vestibular para Matemática tinha um ano de aulas com matérias básicas – cálculo, física, álgebra, etc. Ao fim do segundo semestre, o aluno optava pela carreira a seguir. Eram 5: pura, licenciatura, estatística, computação e aplicada. Ele estabelecia uma ordem de prioridade e seguindo o ranque de notas as vagas eram distribuídas. Era mais do que prestar um novo vestibular.
E isso não era só na matemática. Todos os cursos da USP que tinham um ciclo básico para depois distribuir os alunos pelas carreiras funcionavam assim. E funcionou assim até a bem pouco tempo. Lembro-me bem de quando a minha filha mais velha cursava engenharia na Poli. Aliás, na Poli era até pior que na Matemática, pois ao fim do primeiro ano optava-se pela grande área: civil, elétrica, mecânica, química e sei lá que mais. Depois, no final do segundo ano vinha a opção pela carreira. E tinha que estudar MUITO para chegar com tranquilidade aonde se queria.
Certa vez, conversando com o Dr. Waldyr Oliva, na época diretor do instituto e posteriormente reitor da Universidade, ele alertou que não seria viável abrir tantas vagas nos cursos quanto os alunos interessados por uma questão econômica. Era preciso lançar no mercado, profissionais de todas as áreas e de forma equitativa. Claro que fazer esta opção na hora do vestibular era mais justo, mas aí implicava em outras coisas que não vem ao caso agora.
Voltando ao IME...
Durante o ano todo quase ninguém sabia nem muito ao certo quem eram as pessoas do Centro Acadêmico. Tirando a sala onde a gente jogava ping-pong nos intervalos de aulas, nem mesmo saberíamos que existia o tal centro acadêmico. Aí, na época de eleição todo mundo aparecia... Na aula, na sala de jogos, nos corredores... E era tapinha nas costas de um, beijinhos na bochecha de outra... Eles surgiam do nada... E se ocupavam principalmente dos ingressantes... Eram eles que tinham que fazer a opção interna... E os “amiguinhos” iam fazer greve para acabar com ela. E era sempre a mesma turma. Ninguém entrava, ninguém saia... e ninguém se formava...
Invariavelmente esta greve não dava em nada e os “gracinhas” eram eleitos. Não sei o que eles ganhavam com isso... Em São Carlos, o presidente do CAASO tinha, além do prestígio, uma estrutura para gerir. Era a gráfica, o cursinho, uma parte político-social-esportiva ativa, atuante, influente... A experiência adquirida era o melhor aprendizado conseguido na academia. E isso dito por quem passou por lá... Eu mesma estive envolvida por mais de dois anos na estrutura, dirigindo os esportes femininos. Esta experiência foi de grande valia quando assumi o comando da microinformática da Secretaria Municipal de Educação. Mas e o CEFISMA? Não me recordo de nada que tenha acontecido nos três anos e meio de IME.
Quando estávamos no último ano resolvemos questionar os métodos eleitoreiros. Acho que acabamos com o sono tranqüilo dos candidatos por alguns dias. Criamos a ante chapa: A Panelinha.
Éramos anônimos. Fazíamos cartazes e espalhávamos em lugares estratégicos questionando a postura dos colegas. Colocamos o dedo em muitas feridas. Fizemos muita gente pensar.
Certamente se tivéssemos nos lançado oficialmente teríamos ganho a eleição de lavada, mas éramos formandos e a maioria não podia se dar ao luxo de ficar mais um ano na Universidade.
Foi um grande exercício. Até hoje quando encontro colegas da época, muitos me perguntam se eu fazia parte da Panelinha e quem eram os outros integrantes do grupo, mas sempre tivemos o compromisso que não divulgar nenhum nome a não ser o próprio se assim quisesse. Eu já assumi publicamente o meu papel nesta história mais de uma vez.
Digo sempre que se algum colega da época aprendeu como reconhecer e fugir dos “fisiológicos”, valeu a penas as horas de sono perdidas para produzir o material da nossa campanha.




Lilia Maria


Texto escrito e publicado em 2010.

domingo, 23 de setembro de 2012

Chama

A chama dança
Pra lá e pra cá.
Aurea, perfeita,
Exala luz,
Exala calor,
Uma leve fumaça...
E brilha!
E consome!
E se esvai...
Como a vida. 



Lilia Maria

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Minha mãe



Quando vejo seu olhar perdido
Me pergunto onde anda seu pensamento.
Quem a vê em cálido silêncio
Não sabe o que as lembranças trazem
E rolam nas lágrimas das suas faces.
Estamos em uma longa despedida
Que pode terminar a qualquer instante.
Aqui deixarás saudade,
E sei que levas muito desta vida.
Onde foi parar a sua felicidade sonhada,
Os seus sonhos de menina,
O amor da sua vida?
A mulher que cantarolava
Ao fazer o serviço da casa,
Há muito já não se mostra,
Pois a concha está fechada.
A decepção, o desgosto, o desamor
Tomou conta do seu semblante,
Reforçou cada marca do tempo,
Cada passo do seu caminho.
Quem sabe neste mundo em que agora vives
Esteja em comunhão com a alegria
Que um dia experimentastes por instantes.
Não sei por onde anda o pensamento,
Mas sei que o corpo mora aqui.
Hoje você já não sabe quem sou,
Mas eu sei quem você é.

Lilia Maria

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Vai e vem

Vira e volta,
Vai e vem,
Vira e gira,
Vem também.

Vem que aqui tem
Mel de vintém,
Sol e alegria,
Amor todo dia.

Vai e vem,
Fica também,
Um momento,
Uma vida,
Para todo o sempre,
Amém!

Vira e volta,
Revira a vida,
Que gira 
E que volta,
Ao ponto da partida.

Partida de ida,
Partida de saída,
Vira e volta,
Direto pra mim.

Se você não entendeu,
Posso até explicar,
Que a gente vira e volta,
Sempre para o mesmo lugar.

Lilia Maria

Rainha de copas



Toda mandona,
Até parece uma matrona
Vociferando para quem quiser escutar.
Quero tudo arrumado
Que eu já vou chegar,
E façam do meu jeito
Ou cabeças vão rolar.
Pobre rainha!
Sem trono,
Sem súditos,
Sem razão...
Faz de conta que ainda reina,
Mas nem é mais dona
Do seu próprio coração.

Lilia Maria

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Valete de paus



Lá estava ele,
O valete de paus
Plantado na grama
Como se fosse uma árvore
Prestes a morrer.
Não fazia mais parte da canastra,
Da sequência,
Da manilha.
Agora era o blefe
Do jogador indeciso
Que perdeu sem querer.
Volta ao maço
Carta perdida!
O jogo vai começar,
Não posso bater na partida,
Se você parar de brincar.

Lilia Maria

Vida e sonho

O que seria da vida se não fossem os sonhos! 
O que seria dos sonhos se não fosse a vida. 
Vida sem sonhos é vazia, 
Sonhos sem vida é só utopia. 
Se o sonho se realiza, 
É a vida se enchendo de felicidade. 
Se a vida vira sonho, 
Alcançamos a eternidade. 
Sonhar e viver, 
Viver e sonhar, 
Indissosciáveis,
Mas independentes.
Quando sonhamos,
Planejamos a vida,
Quando vivemos,
Buscamos os sonhos.
Quem não sonha não vive,
Pois o que não é a vida
Senão pedaços de sonhos
Que nos permitimos viver?

Lilia Maria

domingo, 16 de setembro de 2012

E agora Amor?

E agora, Amor?
Você não é o José,
O José do Drummond,
Que estava na festa,
Quando a luz acabou,
Quando o povo sumiu,
Quando a noite esfriou.
Você, que não é um sem nome,
Não zombe dos versos
De quem ama você.
E agora, Amor?
Agora é com você.
Você, que andava sem rumo,
Vai entrando no prumo.

O José do Drummond
Não tinha discurso,
Não tinha mulher,
Não tinha carinho,
Não podia beber,
Não podia fumar,
E agora, Amor?
Você pode tudo!
Está com a chave na mão,
É só abrir a porta.
E para você a porta existe,
O mar não secou,
E você nem precisa ir para Minas,
Minas que para o José acabou...
Amor, e agora?

Você não está sozinho no escuro,
Não é um bicho do mato,
Nem precisa de cavalo preto
Para fugir a galope.
Você não é o José do Drummond,
Nem eu sou o Carlos que escreve poesia
E que pergunta insistente:
E agora, José?

A vida é sua,
Seu povo não sumiu
Sua festa não acabou,
A noite não esfriou,
A luz não apagou,
Ninguém partiu
E estamos esperando você.
E aí, Amor? Você não vem?

Lilia Maria

Este poema, um quase plágio do "E agora José" do Drummond, foi apenas uma gostosa brincadeira com palavras e idéias. Um dia ainda escrevo outra no mesmo estilo utilizando a pedra do caminho ou o bonde cheio de pernas.
Em tempo: escrito em 2011, publicado em folhas soltas.

sábado, 15 de setembro de 2012

Te gosto

Te gostava com tanto gosto,
Que tinha gosto de quero mais.
E de tanto gostar daquele gosto,
Que experimentava com prazer,
Já não queria sentir outro gosto
Pois o maior gosto que tinha
Era o gosto de gostar de você.



Lilia Maria



De vez em quando volto aos meus tempos de adolescência...
Meus tempos de menina enamorada, que ficava olhando de longe... Não tinha medo que alguém visse para onde eu olhava. Meu medo maior era não ter para onde olhar... E o coração estava empenhado, comprometido com o meu sonho. 
Cresci, amadureci, envelheci... Mas de vez em quando aquele olhar perdido, aquele sorriso dissimulado, ainda vem me assombrar
Mas passa, um dia passa...

Meu refúgio


Existe no mundo um lugar
Onde eu gostaria sempre de estar.

Um lugar aconchegante,
Onde me sinto protegida.
Um lugar onde meu corpo cansado
Pode relaxar e sossegar.
Um lugar onde eu não preciso pensar,
Só preciso sentir...
Um lugar onde meu espírito se acalma
E minhas aflições se esvaem.
Um lugar onde volto a ser menina de novo,
Sem problemas, sem preocupações.
Um lugar onde não se paga imposto ou aluguel.
Um lugar que me dá conforto e alento.
Existe no mundo um único lugar
Onde eu gostaria sempre de estar...

Lilia Maria



Se este lugar existe e é para lá que eu vou, nem que seja em meus sonhos... Estou precisando descansar.