quinta-feira, 28 de junho de 2012

Rodando


O homem inventou a roda
E ganhou o mundo.
Rodas, roldanas,
Polias, engrenagens,
Tudo redondo,
Tudo girando,
E evoluindo.
E como num passe de mágica,
Aquele ponto que deixei para trás,
Volta de novo à tona
Nas voltas que o mundo dá.
Tudo vira círculo,
Circunferência ou esfera
Quando a ordem é rodar.
E se para, quebra-se a aresta,
E volta a caminhar.

Lilia Maria

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Evolução

No início era pó,
Fagulhas,
Fragmentos,
Idéias desencontradas,
Histórias sem fim.
Ao final
Restou pó,
Fagulhas,

Fragmentos,
Idéias encadeadas,
Histórias com ponto final.


Lilia Maria

Ciclos

Todo dia nasce
Esperando o sol aquecer.
Todo dia nasce
Para haver um entardecer.
Todo dia nasce
Para na calada da noite morrer.

Todo dia acontece,
Toda noite escurece,
Nasce e renasce,

Vai e vem.
Quando um ciclo se fecha,
Outro já tem.



Lilia Maria

terça-feira, 26 de junho de 2012

Poema geométrico


Na linha interrompida
Onde o círculo começou,
O ponto se faz centro
E um ângulo se traçou.
É como o chanfro da seta
Que um coração marcou.
Segue a linha que vai formando
Na malemolência do espiral,
Que vai abrindo devagarinho,
Num espaço infinitesimal.

Lilia Maria

terça-feira, 12 de junho de 2012

Aguém responde?

Amor é via de mão dupla,
O meu é contra-mão,
Tenho amor, então?

Triste é o fim,
Seja lá do que for,
Estou triste, acabou?

Nasce e renasce,
Há luz sempre a brilhar,
Por que não posso enxergar?

Ficar sentada na estrada,
Esperando o tempo passar,
Posso nas horas embarcar?

Doce mistério da vida,
É o mundo a desbravar,
Alguém pode me ajudar?

Ganhar o jogo de virada
É o sonho do jogador,
Volto então a jogar?

Perguntas sem resposta
Sempre se pode fazer,
Alguém vai me responder?

Espelho, espelho meu,
Espelho que Deus me deu,
Existe alguém mais louca que eu? 


Lilia Maria

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Canto contido

Poeta bom de trova
Ensinou-me a versejar.
E assim, eu hoje escrevo
Para as montanhas e campinas,
Para as sombras do luar.
Não me falta inspiração
Se deixar a minha alma voar
Nas pradarias deste rincão
Que hoje vim visitar.
Canto as águas do riacho,
Que da pedra fez o seixo
De tanto levá-la pra lá e para cá.
Canto a saudade do caboclo,
Que perdeu a felicidade
Que custou muito a encontrar.

Quando acabar o meu cantar,
Vou sair a campear
Meu destino, minha vida,
Meu alento, meu lugar.


Lilia Maria

Estava eu em Poços de Caldas,
Quando a inspiração veio me encontrar....

Trovejando


Não há luz que alumie
Esta grande escuridão
Que ficou a minha vida
Depois do apagão.
Apagou-se o meu sorriso
Apagou-se a paixão
Apagou-se a lua cheia
Que morava no meu coração.
Vou ficando por aqui
Antes que o raio vire trovão.
Ainda há brasas no braseiro
Só precisa de um assoprão.
Vai que bate a ventania
Que varre tudo que encontra,
E me tire da calmaria
Pra que eu volte a brilhar...
Sempre resta a esperança,
E esta é o que vai me arrastar
Até o fim da minha vida,
Enquanto o sangue na veia pulsar.

Lilia Maria


Trovejar foi inventado pra dizer que faço trova, bem quadrada, toda rimada, pra contar o que vai passando.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Dualidade

Queria que a vida
Tivesse muitas portas,
E que cada porta
Nos levasse a um caminho,
E que cada caminho
Fosse completamente independente,
E que esta independência
Fizesse com que jamais se cruzassem,
E que se pudesse abrir
Mais de uma porta por vez,
E que se pudesse trilhar,
Mais de um caminho,
Como se cada um de nós
Fossemos muitos,
mas que estes muitos
Formassem um só ser,
E que este ser único
Acumulasse muitas experiências
De todos os caminhos trilhados,
E que os erros pudessem ser corrigidos,
E que os acertos
Pudessem ser compartilhados
Pelos muitos "eus"
Que habitam um ser. 


Lilia Maria

E não é?


Eternamente
É ter na mente
Um pedaço do coração.

Lilia Maria

terça-feira, 5 de junho de 2012

Sopa de letrinhas

Pingo,
Ponto,
Vírgula
E pronto,
Começo outra vez a escrever.
Põe acento,
Tira trema,
Tira teima
Consulta o dicionário.
Tem dois esses
Ou cê-cedilha?
É com jota
Ou escreve com gê?
Sigo escrevendo
Bem depressa
Antes da idéia fenecer.
Não importa a grafia
Se o outro puder entender.

Lilia Maria

Alors

Après les adieux
Tout est vide,
Sans vie
Sans la volonté,
Sans la vérité,
Sans amour,
Sans chaleur
Pas de couleur.
Sans un peu de toi,
Sans un peu de moi.

Lilia Maria


Même triste, je suis très chic, n'est pas?

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mas autor já não morreu?

Lá fui eu para a primeira escola que lecionei como efetiva na Rede Pública. Estávamos em fevereiro de 1979.
O meu livrinho de Matemática tinha acabado de sair. Estava sendo adotado em todos os bons colégios de São Paulo: São Luiz, Rio Branco, Bandeirantes, Santa Cruz... Claro que resolvi adotá-lo também.
Os outros professores da casa, mais antigos, mais experientes, acharam uma loucura, afinal, era um livro que prometia ser difícil para o nível dos alunos. Eu não achava nada. Na época eu era (e sou) muito piageteana. Acreditava que não tinha nada que a gente não pudesse ensinar desde que bem preparado e estruturado. No dia que o livro chegou e foi entregue para os alunos, um pingo de gente da quinta série disparou:
- Nossa, professora, um dos autores tem o mesmo nome que você...
- Não, meu bem, não é só o mesmo nome, é a mesma pessoa, o autor SOU eu...
- Uéééé´... Mas autor de livro já não morreu????
Quase morri mesmo, mas de tanto rir...



Lilia Maria

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Volver a los 11, 12, 13...

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a Dios

Hoje acordei novamente com esta música na cabeça. Ela povoava os meus pensamentos quando voltava aos 11, 12, 13... De repente, estou voltando de novo.
Boas lembranças, tempos felizes, tempos em que tudo parecia meio cinza, mas que hoje, entrando no outono da vida, parece que aqueles tempos foram mágicos, coloridos, vibrantes... Mesmo alguns acontecimentos que marcaram momentos de pesar e tristeza, hoje são vistos com outros olhos. Não ganharam leveza, mas não têm mais o mesmo peso.
Que bom que é olhar estes tempos através dos olhos de quem estava lá. Que bom é olhar estes tempos e perceber que fizemos parte uns das histórias dos outros e fizemos toda diferença. Que bom é hoje poder ser ainda chamada de amiga. Que bom é hoje chamar alguém de amigo.
Que bom que nós existimos!

Lilia Maria

Um beijo grande para os meus mais novos velhos amigos.