Sonhar, voar e acordar

Voava à bordo de sonhos,
Ás vezes em pégasus dourados
Que subiam, subiam, até além da nuvens.
Onde tudo era céu azul
E nada mais,
E olhava longe!
Era como se o longo fosse logo ali,
Ao alcance de suas mãos.
E quando acordava,
Depois de uma longa caminhada,
Morria de tristeza e saudade.
Então seu sonho moria junto.
Que pena que a vida é real!

Lilia Maria

Fim de linha

Acordei irritada,
Cansada,
Como se o sono fosse sem efeito
Para o corpo ser refeito.
Meu Deus!
No meu último instante de vida,
Venha a mim,
Se faça presente,
E diga feliz a todo mundo,
Que da próxima festa,
Estarei ausente.

Lilia Maria

Pensando na vida

Quando eu penso
Que o ar ficou menos tenso,
Vem a esperança, o alento,
Que enfim a vida vai continuar.

O romantismo da juventude se foi,
A sabedoria da maturidade
Não me convence mais
Que tudo pode ficar como está.

Chegou um tempo em que tudo é urgente,
Mas nada deve ser feito com pressa,
Pois a pressa arrebata o sabor
Da conquista a se alcançar.

Quando olho no espelho
A imagem dos anos vividos,
Penso que ainda falta muito
Para esta história acabar.

Lilia Maria

E o amor nasceu

Em tantos coisas que contei
E fiz largos sorrisos acontecerem,
Não contei o que mais me emociona
Que foi ver um certo amor nascer.
E nasceu devagarinho,
Preguiçoso, sem pressa,
Curtindo cada passo dado
Rumo à grande paixão.
Esta sim foi fulminante,
Mal podia esperar pelo amanhã
Para o próximo beijo provar.
Agora, em tempos de calmaria,
Tudo parece apenas histórias,
Que alguém sonhou,
Mas não viveu.

Lilia Maria

Quando anjos ascendem aos céus...

Nós éramos cerca de 60 adolescentes com, em média 15 anos. Voltamos da folga do dia dos professores com a notícia que 1 dos nossos colegas havia morrido queimado no Pico do Jaraguá e que outros dois estavam hospitalizados em estado grave. Eles se foram também. Outros dois colegas, que estavam junto e conseguiram escapar, estavam atordoados. Para todos, nós os colegas e os sobreviventes, o ano estava acabado. A escola implantou medidas para tentar minimizar o nosso sofrimento. Mas não sei se foram muito felizes. 

Até hoje, depois de mais de 50 anos, ainda temos viva nas nossas lembranças, a dor da perda de amigos tão queridos e que tinham a vida toda pela frente para realizar seus sonhos. 

Hoje, escutando as notícias do incêndio do Ninho do Urubu, quando vejo um dos sobreviventes dizer o quanto será difícil voltar as atividades, lembro-me de como foi difícil para nós, e percebo o quanto será difícil para eles. Vou rezar para que eles consigam enfrentar a tristeza e chegar longe no caminho que estavam traçando para suas vidas. 

Estou triste, muito triste.

Lilia Maria