domingo, 23 de junho de 2013

Matematicar

Matemática tem poesia,
Tudo é questão de rimar,
Misturar álgebra com geometria,
E o X da questão encontrar.

Lilia Maria

Um dia ainda termino esta quadrinha... Idéias é o que não falta...

Vou vivendo

Eu plantei,
Eu colhi,
Frutos de uma vida inteira
Que sozinha vivi.

Eu chorei,
Eu sorri,
Emoções ainda tenho guardadas
Nas imagens do que vi.

Eu andei,
Parei para descansar,
E agora sigo o caminho
Que marquei para trilhar.

Lilia Maria


Plástica, eu????

Cada ruga do meu rosto
Conta alguma história,
De risos ou lágrimas
Por fracassos ou vitórias.

Acho que devo fazer plástica,
Alisar a minha tez,
Passar a vida a limpo
E começar tudo outra vez.

Lilia Maria

Poetizando XVI

Quando dois mais dois
Deixa de ser quatro,
Está na hora de rever conceitos
Ou voltar a estudar matemática.


Lilia Maria

Serenando

Em algum lugar do coração
Abre-se a flor do amanhã.
É bela como todas elas
Que nasceram naquela primavera.
Tem cheiro de saudade,
Tem gosto de felicidade,
Tem a cor de todas as cores do mundo,
Mas vive só um momento,
Enquanto dura o suspiro sentido
Que a ausência o amor cala,
E deixa tanta saudade
Num vazio profundo.


Lilia Maria

quinta-feira, 20 de junho de 2013

O que os olhos não vêem



Havia uma vez um rei
num reino muito distante,
que vivia em seu palácio
com toda a corte reinante.
Reinar pra ele era fácil,
ele gostava bastante.

Mas um dia, coisa estranha!
Como foi que aconteceu?
Com tristeza do seu povo
nosso rei adoeceu.
De uma doença esquisita,
toda gente, muito aflita,
de repente percebeu...

Pessoas grandes e fortes
o rei enxergava bem.
Mas se fossem pequeninas,
e se falassem baixinho,
o rei não via ninguém.

Por isso, seus funcionários
tinham de ser escolhidos
entre os grandes e falantes,
sempre muito bem nutridos.
Que tivessem muita força,
e que fossem bem nascidos.
E assim, quem fosse pequeno,
da voz fraca, mal vestido,
não conseguia ser visto.
E nunca, nunca era ouvido.

O rei não fazia nada
contra tal situação;
pois nem mesmo acreditava
nessa modificação.
E se não via os pequenos
e sua voz não escutava,
por mais que eles reclamassem
o rei nem mesmo notava.

E o pior é que a doença
num instante se espalhou.
Quem vivia junto ao rei
logo a doença pegou.
E os ministros e os soldados,
funcionários e agregados,
toda essa gente cegou.

De uma cegueira terrível,
que até parecia incrível
de um vivente acreditar,
que os mesmos olhos que viam
pessoas grandes e fortes,
as pessoas pequeninas
não podiam enxergar.

E se, no meio do povo,
nascia algum grandalhão,
era logo convidado
para ser o assistente
de algum grande figurão.
Ou senão, pra ter patente
de tenente ou capitão.
E logo que ele chegava,
no palácio se instalava;
e a doença, bem depressa,
no tal grandalhão pegava.

Todas aquelas pessoas,
com quem ele convivia,
que ele tão bem enxergava,
cuja voz tão bem ouvia,
como num encantamento,
ele agora não tomava
o menor conhecimento...

Seria até engraçado
se não fosse muito triste;
como tanta coisa estranha
que por esse mundo existe.

E o povo foi desprezado,
pouco a pouco, lentamente.
Enquanto que próprio rei
vivia muito contente;
pois o que os olhos não vêem,
nosso coração não sente.

E o povo foi percebendo
que estava sendo esquecido;
que trabalhava bastante,
mas que nunca era atendido;
que por mais que se esforçasse
não era reconhecido.

Cada pessoa do povo
foi chegando á convicção,
que eles mesmos é que tinham
que encontrar a solução
pra terminar a tragédia.
Pois quem monta na garupa
não pega nunca na rédea!

Eles então se juntaram,
Discutiram, pelejaram,
E chegaram à conclusão
Que, se a voz de um era fraca,
Juntando as vozes de todos
Mais parecia um trovão.

E se todos, tão pequenos,
Fizessem pernas de pau,
Então ficariam grandes,
E no palácio real
Seriam logo avistados,
Ouviriam os seus brados,
Seria como um sinal.

E todos juntos, unidos,
fazendo muito alarido
seguiram pra capital.
Agora, todos bem altos
nas suas pernas de pau.
Enquanto isso, nosso rei
continuava contente.
Pois o que os olhos não vêem
nosso coração não sente...

Mas de repente, que coisa!
Que ruído tão possante!
Uma voz tão alta assim
só pode ser um gigante!
- Vamos olhar na muralha.
- Ai, São Sinfrônio, me valha
neste momento terrível!
Que coisa tão grande é esta
que parece uma floresta?
Mas que multidão incrível!

E os barões e os cavaleiros,
ministros e camareiros,
damas, valetes e o rei
tremiam como geléia,
daquela grande assembléia,
como eu nunca imaginei!

E os grandões, antes tão fortes,
que pareciam suportes
da própria casa real;
agora tinham xiliques
e cheios de tremeliques
fugiam da capital.

O povo estava espantado
pois nunca tinha pensado
em causar tal confusão,
só queriam ser ouvidos,
ser vistos e recebidos
sem maior complicação.

E agora os nobres fugiam,
apavorados corriam
de medo daquela gente.
E o rei corria na frente,
dizendo que desistia
de seus poderes reais.
Se governar era aquilo
ele não queria mais!

Eu vou parar por aqui
a história a que estou contando.
O que se seguiu depois
cada um vá inventando.
Se apareceu novo rei
ou se o povo está mandando,
na verdade não faz mal.
Que todos naquele reino
guardam muito bem guardadas
as suas pernas de pau.

Pois temem que seu governo
possa cegar de repente.
E eles sabem muito bem
que quando os olhos não vêem
nosso coração não sente.



Ruth Rocha


Todo mundo deveria ler e entender as entrelinhas deste poema...

domingo, 16 de junho de 2013

... entra por uma porta, sai pela outra...



... quem quiser que conte outra...
Assim terminava o programa Sítio do Pica Pau Amarelo nos anos 50. O educador Júlio Gouveia fechava o livro e as luzes se apagavam. Ontem à tarde, as luzes se apagaram para Tatiana Belinky, escritora de livros infantis que com ele foi casada.
Devo ter no meio das minhas fotos ou em algum vídeo antigo, imagens da escritora numa feira de livros do Colégio Miguel de Cervantes. Ela estava presente para conversar com os alunos, mas fez a delícia para nós, os pais, contando histórias de sua vida. Ficamos horas escutando a escritora falar. As crianças foram brincar, mas nós continuamos ali. Quantas lembranças boas passaram por nossas cabeças.

O Sítio da nossa infância era muito diferente de qualquer um que passou depois, a começar da imagem da própria Emília, na época encarnada na atriz Lúcia Lambertini. Lembro-me de Edy Cerri como Narizinho e de David José como Pedrinho.
Quem quiser ver como eram os personagens da época, é só fazer uma visita à Biblioteca Infantil Monteiro Lobato (R. Gen. Jardim, 485 - Vila Buarque São Paulo). Há uma sala dedicada ao autor e se bem me lembro, alguns posteres com fotos do programa. Vale a pena conhecer.


Lilia Maria

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Eclipse

Hoje acordei lua,
Olhando o sol nascer.
Olhar apaixonado este meu.
O sol brilha
E a lua se esconde,
E quando ela surge no céu,
É hora dele se esconder.
Um dia o eclipse volta a acontecer.

Lilia Maria

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Observância


De longe tudo é belo,
De perto é que a coisa pega...
De longe tudo é perfeito,
De perto nem tudo foi feito.
Não põe lupa nos olhos
Para olhar com fino apuro,
O que é importante não passa aos olhos,
Do observador incauto.

Lilia Maria

Vagando por aí


Zum, zum, zum...
Zumbi...
Zunindo como o vento,
Passa correndo sem despertar.
Não olha para o lado,
Não olha para frente,
Não olha para trás.
Seu guia são seus pés
Que não param de caminhar.
Um tropeço,
Um pulo,
Um recomeço,
Retoma sem parar.
É como se na parada
Parasse de respirar.

Lilia Maria

Teatral


Na plateia, nenhum aplauso
No palco, nenhum ruído,
Nos bastidores, nenhum movimento.
Congelados,
Surpresos,
Em suspense...
Falta o sinal de Deus
Para a vida recomeçar.

Lilia Maria

domingo, 2 de junho de 2013

Sem perdão

A alma desiludida,
Desencantada da vida,
Deixa um gosto amargo na boca,
Que nem o mel mais doce
Consegue enganar.

O frio que sinto agora,
Não é o que entra nos ossos,
E acalma com o sopro do aquecedor.
É um frio que vem de dentro para fora,
E me faz como boba chorar.

Levaram tudo de mim,
A paz, a alegria,
A vontade de viver,
De romper barreiras,
De ir além do que podia suportar.

Sinto-me vazia por dentro,
Mas ter essa clareza
Já é se rebelar,
Vou passo a passo pegando o embalo,
Para voltar a caminhar.

Só morre quem se acomoda,
E eu não vou me acomodar.
Só envelhece
Quem de si esquece,
E eu quero me lembrar.

Não tenho medo das sombras
A minha luz vem do coração,
Das minhas lembranças da infância,
Da menina que um dia fui
E nunca deixarei de ser.


Lilia Maria