quarta-feira, 28 de maio de 2014

Maré mansa

Chega o dia
Que até a maré mansa
Resolve se revoltar.
A ondas sobe,
Inclina a crista,
E quem olha ao longe,
Sai correndo
Com medo de se afogar.
Mas é só um minutinho,
Uma forma de contestar,
Pois vai chegando à praia,
E a espuma se desfaz.

Lilia Maria

Moto perpetuo

O dia chegou de mansinho,
Friozinho,
Nevoento,
Tristinho,
Mas raiou como sempre.
E mesmo com o sol ausente,
Flores desabrocharam,
Frutos amadureceram.
Não importa o que acontece,
A vida é moto perpetuo,
E sempre há de continuar.

Lilia Maria



 

Contradança

Quando passa o passo
No meio da dança,
Se passa rápido
A perna trança.

Seja no meio da valsa,
Do bolero,
Ou chá-chá-chá,
Tem-se que ter cuidado
Para o passo não errar,
Para seguir bem no ritmo,
Para no pé não pisar.

Mas se algo acontece,
A dança não pode parar,
Segure bem no parceiro,
Disfarce o tombo,
Levado ou perdido,
E volte a dançar.

Lilia Maria

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Se... Então...

Se a vida prega uma peça,
Se no caminho há um buraco,
Se o sapato do pé se perdeu,
Se de repente escureceu,
Se a fome apertou,
Se o frio congelou,
Se o trem saiu do trilho,
Use a imaginação,...
Improvisos fazem parte da vida.

Lilia Maria

Imagem

O homem atrás do nariz,
De olhos cansados
E sorriso desmaiado,
Parece que perdeu a coragem
De buscar novas escoras.


Lilia Maria

Feliz jogada

Salta na rede
E como um colibri
Paira no ar,

Estuda o adversário,
Desce o braço,
E num lance calculado,
É mais um ponto a computar.
Perfeito.
Volta ao solo tranquilo
 Pulsos ao ar.
A torcida vibra,
Comemora,
É mais uma vitória a alcançar.


Lilia Maria

Sem retoque

Sem retoque,
Nenhum toque,
Nenhuma sílaba fora do lugar,
Sai a palavra dita
De forma explicita
Nesta forma de se expressar.
É poesia esta bendita,
Às vezes quase uma oração,
É elegia que a alma habita
E regurgita sem pensar.
Assim nasce a trova
Como um prova
Que palavras escritas
Com pena aguda e fria tinta
Na capa negra da noite
Fazem parte da constelação
Que enfeita, ilumina e acolhe
Pensamentos que nunca são em vão.


Lilia Maria

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Memórias do rádio

Quando recebi a proposta de falar sobre minhas recordações que estivessem diretamente ligadas ao rádio, prontamente retruquei: nenhuma, nasci junto com a televisão. Comecei a escutar o meu grupo contar suas histórias, dei muitos palpites, mas continuei firme no meu discurso. Definitivamente o rádio não tinha grande significado para mim.
Depois, voltando para casa, entrei dentro do carro e ao ligar o contato, a voz do Milton Nascimento cantando “Canção da América” me fez parar e pensar: gente! O rádio não é passado, ele está aqui! Ele fez e ainda faz parte da minha vida. Claro que a TV é muito mais presente, mas quem me faz companhia nas horas do trânsito intenso? Não é a Rádio Sulamérica Trânsito que me diz porque eu estou já meia hora parada no congestionamento? Quem me faz rir com os esquetes engraçados da MIX? Quero ouvir um pouco de notícias? Lá estou eu com a CBN no ar.
Aí as histórias começaram a pipocar. Muitas não foram por mim vividas, mas são as lembranças do meu pai, como por exemplo, quando ele ainda garoto ajudou um tal engenheiro Juca a montar a PRA-7 de Ribeirão Preto. Ou quando ele montou o seu primeiro rádio de Galena.
Nos muito antigamente, rádio era a peça principal da decoração de muitas salas. Eram enormes, feitos com válvulas. Exalavam muito calor. Lembro-me bem daquele que existia na casa dos meus avós na cidade de São Carlos. Eu era bem pequena e lá não havia torre de retransmissão de TV. Nas férias eles recebiam os netos. Era uma barulheira só de crianças saudáveis brincando o tempo todo. Mas tínhamos que parar na hora do noticiário. A solução que o vovô encontrou foi encher uma folha de papel de contas. Tínhamos que efetuá-las antes de voltar a brincar. Era o tempo exato para que ele ouvisse as notícias do dia. E foi assim que eu desenvolvi a minha habilidade com números.
As válvulas um dia deram lugar aos transistores e assim surgiram os rádios portáteis. Este era o sonho de 10 entre 10 pessoas no início da década de 60. Rádio portátil era tudo de bom. Funcionava à pilha, dava para levar dentro do bolso e colocar debaixo do travesseiro para ouvir música na hora de dormir. Eu fiquei muito feliz quando ganhei o meu de presente de Natal em 1966. Era lindinho, todo cor de rosa, com uma capa de couro clarinho e cabia na palma da minha mão. Virou meu companheiro inseparável.
Nos meados dos anos 60, quando a Jovem Guarda chegou pra valer, além dos programas de televisão, quase todos os ídolos tinham um programa na Jovem Pan (que era apenas a radio Panamericana de nova roupagem). Eu adorava. Eram cartas respondidas, eram músicas tocadas, histórias de parcerias, enfim era o meu mundinho ali, ao meu alcance, sem ter que pedir ordem para os meus pais para ligar o rádio ou a televisão.
Lembro-me bem da voz do Roberto Carlos, do seu risinho inconfundível, reclamando mais uma vez da Candinha (que fazia um programa de fofocas na mesma rádio). Lembro-me dele falando dos seu amigos inseparáveis, o Erasmo Carlos e a Wanderléa, das músicas da Martinha, Trio Esperança, Wanderlei Cardoso, Vanusa, Antonio Marcos, das suas próprias e de outros tantos, cujas letras eu tentava copiar para transcrever para o meu caderno de canções.
Tempos bons! Incríveis! Inesquecíveis.
 
Lilia Maria

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Tempo e movimento

Dentro da Matemática nada me encantou mais do que estudar alguns paradoxos. Até hoje eles me fazem pensar, viajar, voar. Eu voo alto! Matemática sempre me inspira. Ela é a minha pinga, meu norte, meu pão.
Mas vamos ver os paradoxos que eram os maiores alvos do meu encanto. Claro que vou contar uma historinha para exemplificá-los.
Imagine aquele arqueiro que protagonizou o momento mágico da Olimpíada de Barcelona, acendendo a pira olímpica disparando uma fecha incandesceste em direção a ela. Será que ele realmente conseguiu acendê-la? Muita gente diz que não, que tudo não passou de uma grande encenação, etc., etc.
Se analisarmos a situação, podemos pensar que, para atingir o alvo, a flecha deve passar pelo ponto que determina a metade da distância entre o arco e o alvo. Assim que a flecha atinja este ponto, ela terá que atingir o ponto que determina a metade da distância entre o ponto anterior e o alvo. Sucessivamente, a flecha sempre deverá vencer a metade do ponto onde se encontra e o alvo. Desta forma sempre haverá uma “metade” de distância a percorrer, portanto o alvo nunca será atingido.
Podemos partir também de outra hipótese, esta com relação ao tempo. O tempo é uma sucessão de instantes, certo? Se olharmos a flecha em cada instante, como se estivéssemos fotografando, dentro de cada instante ela estará parada, certo? Se ela está parada em cada instante, então ela não se movimenta, e se ela não se movimenta, não atinge o alvo.
Meio maluco, n’é?
O doidinho que pensava estas coisas era o filósofo grego, Zenon, nascido na cidade de Eléia e que viveu entre 490 e 430 A.C.
 
Lilia Maria
 
Este texto foi escrito há muito tempo. Hoje ele foi editado e repostado.