quinta-feira, 8 de maio de 2014

Memórias do rádio

Quando recebi a proposta de falar sobre minhas recordações que estivessem diretamente ligadas ao rádio, prontamente retruquei: nenhuma, nasci junto com a televisão. Comecei a escutar o meu grupo contar suas histórias, dei muitos palpites, mas continuei firme no meu discurso. Definitivamente o rádio não tinha grande significado para mim.
Depois, voltando para casa, entrei dentro do carro e ao ligar o contato, a voz do Milton Nascimento cantando “Canção da América” me fez parar e pensar: gente! O rádio não é passado, ele está aqui! Ele fez e ainda faz parte da minha vida. Claro que a TV é muito mais presente, mas quem me faz companhia nas horas do trânsito intenso? Não é a Rádio Sulamérica Trânsito que me diz porque eu estou já meia hora parada no congestionamento? Quem me faz rir com os esquetes engraçados da MIX? Quero ouvir um pouco de notícias? Lá estou eu com a CBN no ar.
Aí as histórias começaram a pipocar. Muitas não foram por mim vividas, mas são as lembranças do meu pai, como por exemplo, quando ele ainda garoto ajudou um tal engenheiro Juca a montar a PRA-7 de Ribeirão Preto. Ou quando ele montou o seu primeiro rádio de Galena.
Nos muito antigamente, rádio era a peça principal da decoração de muitas salas. Eram enormes, feitos com válvulas. Exalavam muito calor. Lembro-me bem daquele que existia na casa dos meus avós na cidade de São Carlos. Eu era bem pequena e lá não havia torre de retransmissão de TV. Nas férias eles recebiam os netos. Era uma barulheira só de crianças saudáveis brincando o tempo todo. Mas tínhamos que parar na hora do noticiário. A solução que o vovô encontrou foi encher uma folha de papel de contas. Tínhamos que efetuá-las antes de voltar a brincar. Era o tempo exato para que ele ouvisse as notícias do dia. E foi assim que eu desenvolvi a minha habilidade com números.
As válvulas um dia deram lugar aos transistores e assim surgiram os rádios portáteis. Este era o sonho de 10 entre 10 pessoas no início da década de 60. Rádio portátil era tudo de bom. Funcionava à pilha, dava para levar dentro do bolso e colocar debaixo do travesseiro para ouvir música na hora de dormir. Eu fiquei muito feliz quando ganhei o meu de presente de Natal em 1966. Era lindinho, todo cor de rosa, com uma capa de couro clarinho e cabia na palma da minha mão. Virou meu companheiro inseparável.
Nos meados dos anos 60, quando a Jovem Guarda chegou pra valer, além dos programas de televisão, quase todos os ídolos tinham um programa na Jovem Pan (que era apenas a radio Panamericana de nova roupagem). Eu adorava. Eram cartas respondidas, eram músicas tocadas, histórias de parcerias, enfim era o meu mundinho ali, ao meu alcance, sem ter que pedir ordem para os meus pais para ligar o rádio ou a televisão.
Lembro-me bem da voz do Roberto Carlos, do seu risinho inconfundível, reclamando mais uma vez da Candinha (que fazia um programa de fofocas na mesma rádio). Lembro-me dele falando dos seu amigos inseparáveis, o Erasmo Carlos e a Wanderléa, das músicas da Martinha, Trio Esperança, Wanderlei Cardoso, Vanusa, Antonio Marcos, das suas próprias e de outros tantos, cujas letras eu tentava copiar para transcrever para o meu caderno de canções.
Tempos bons! Incríveis! Inesquecíveis.
 
Lilia Maria

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