quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Dúvida

No passado,
Conjuguei o verbo no futuro.
No futuro,
O verbo poderá estar passado.
No presente...
Ah! o presente!
Não sei conjugar.

Lilia Maria

Mané Pipoca


M e a  ma
N e é  né
Mané
P i Pi
Mané Pi
P e ó Pó
Mané Pipó
C e a Ca
Mané Pipoca

Esta é uma musiquinha de criança que cansei de cantar.
Não me lembro com quem aprendi, só sei que foi em alguma aula na época que fazia Educação Física na USP. 
Era divertido. A gente cantava do jeito que escrevi, depois ia de trás para frente (capopi nema), aí misturava tudo, um verdadeiro exercício para a mente. Ensinei para as minhas filhas quando elas eram pequenas. Elas se divertiam inventando novas formas de embaralhar as sílabas.
Um dia se Deus quiser vou ensinar, esta e outras tantas que vou me lembrando enquanto estou aqui escrevendo, para os meus netos.

Lilia Maria

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Concepção


A vida principia
Num movimento pendular...
Pra lá e pra cá...
Sobe e desce...
E deixa ficar.

Eram dois,

Um caminhava,
O outro ficava a esperar.
De repente se encontraram
E resolveram unificar.

Aí veio a alegria,

A paz, a calmaria,
E Deus a abençoar. 

É só esperar
Que mais dia, menos dia
Nasce a vida
Que aí está.


Lilia Maria

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Maria


Maria era seu nome de pia.
Maria somente, solenemente,
Maria santa,
Maria flor.
Sábia Maria!
Não dava conselhos,
Só dizia o que fazer,
E era bom obedecer,
Pois adivinhava tudo que ia acontecer.
Vidente?
Não, nem tanto,
Apenas experiente,
Aprendeu com o viver.
Maria do semblante sereno,
Do sorriso pequeno,
Do coração acolhedor.
Maria, uma linda criatura,
Maria, uma mulher de valor.


Lilia Maria

Para a minha avó, que até hoje ainda vem me socorrer.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Amor e Paixão


Paixão é verso,
Amor é poesia.
Paixão é vendaval,
Amor é calmaria.
Paixão é o despertar,
Amor é a letargia.
Paixão é desencontro,
Amor é harmonia. 

Paixão é fome,
Amor é só vontade de comer. 


Paixão sem amor
Não é pecado,
Amor sem paixão
É amizade.
Se caminham juntos,
É sublime,
Separados
Podem até sobreviver. 

Paixão faz brilhar os olhos,
Amor, o coração bater.


Lilia Maria 


Minha amiga Marcia Pitta, já há algum tempo, postou a seguinte pergunta no Facebook:
- Alguém sabe me dizer a diferença de amor e paixão?
Como responder? Achei que este post ia bombar. Quando se trata de falar destes sentimentos todo mundo vira doutor... Quem nunca curtiu uma paixão? Quem nunca viveu um grande amor?
Apesar de ser uma eterna apaixonada e de amar o amor, creio que ainda tenho muito que aprender. Nem sei se algum dia estarei pronta para falar algo definitivo sobre estes dois sentimentos que podem caminhar juntos, se completarem ou estar numa mesma linha, se alternando conforme a situação.
Quando se fala de amor e paixão, automáticamente a imagem que nos vem é de um casal que compartilham de forma sublime estes dois sentimentos. São os esteriótipos herdados da educação que recebemos. A minha geração sofreu quase que lavagem cerebral para interiorizar que amor é sagrado e que sexo é pecado. E a paixão acabava sendo quase que um sinônimo de luxúria, um dos sete pecados capitais. 
Acho que amor pode até ser descrito matemáticamente (olha só a minha paixão!) como uma função não linear. Um dia se ama mais, no outro se ama menos, numa época o amor é muito e de repente ele pode virar muito pouco. Ele pode tender a zero no limite da situação, mas não sei se ele chega a zero não, pois se a zero chegar, deixa de ser amor e vira um outro sentimento que não é amor não.
Será que um dia a gente deixa de amar? Eu acho que não. Por experiência própria, digo sem medo de errar: nem a morte mata o amor.
E a paixão? A quantas anda a paixão? Paixão é uma coisa louca, arrebata, explode, te deixa de quatro... A gente ri, canta, dança... Parece que o coração não cabe no peito... Paixão é prender a respiração e morrer de tesão...
Amor e paixão podem ou não caminhar juntos, mas se estiverem na mesma hora e no mesmo lugar, nada pode ser mais incrível, mais gratificante.
 Este texto todo é apenas uma parte da minha resposta para a Marcia, Tenho certeza que muita gente completaria com muita sabedoria tudo aquilo que eu deixei de falar.
 

domingo, 25 de setembro de 2011

Falando demais

Esta é uma fala muda,
Dessas que ninguém escuta.
É um jogo de palavras

Que nada diz,
Mas muito fala,
Pois a fala fica muda
Quando se muda a fala
E emudece o interlocutor
Que com palavras brincou.

Não se pode mudar a fala
Depois que já se falou.
Então fica o dito pelo não dito,
Muda depressa o assunto,
E faz de conta que ninguém escutou.

Lilia Maria


Quem fala o que quer muitas vezes ouve o que não quer. Às vezes não quer ouvir, outras vezes não quer entender. Quem fala muito, muitas vezes fala sem pensar, e quando percebe, fala o que não era para falar. Aí, às vezes se cala, às vezes tenta consertar, às vezes ainda muda o assunto e espera que ninguém tenha percebido o que foi dito. Nem sempre o sucesso é garantido. Então é melhor medir as palavras quando se pisa em terreno incerto. A sala de aula me fez aprender muito sobre isso.

sábado, 24 de setembro de 2011

Nem tudo que parece é o que acontece

Era um pontinho,
Virou um borrão!


Tudo aquilo que eu guardava com carinho,
Na caixinha com tampa lacrada,
Precisou ser mexido e lavado
Para no tempo não voltar a se perder.


Era um sopro,
Virou um vendaval!


Eu fico aqui me remoendo,
Tentando colocar tudo no lugar,
E voltar a caminhar despreocupada
Com o que posso lá na frente encontrar.


Era apenas um sonho,
E eu tive que acordar!


Agora de nada adianta
Fechar os olhos para não ver
O que está bem colocado
Na frente do meu nariz.


Era um elo perdido,
E eu quis encontrar!


A corrente estava fechada,
Não tinha como este elo colocar,
Tive que tentar encontrar
O lugar para ele se acomodar.


Era apenas uma pequena curiosidade,
Virou um livro a se escrever!


Enquanto tudo isso ocorre
Neste emaranhado de desencontros,
Minha cabeça explode
Num turbilhão de emoções...


Era para ser... virou...
Não tem mais como voltar...


Lilia Maria


Este poema foi a primeira postagem do blog Folhas Soltas em 26/05/2009.
A princípio o nome era "E agora?", mas em fevereiro deste ano acabei mudando por uma série de motivos que agora não importam.
Eu já disse uma vez que às vezes escrevo coisas que na hora me parecem fora do lugar, mas muito depois elas acabam fazendo sentido. Este é o caso. Se eu tivesse escrito hoje, a inspiração seria perfeitamente explicável.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Projeto de gente

Quem não deixa rastros.
Não quer que lhe sigam os passos.
Quem não deixa aceso o lume,
Não marca presença.
Quem não deixa saudade,
Não quer nenhuma lembrança.
Quem faz suas próprias verdades,
Pensa ser um semideus.
Quem apaga sua história,
Fez de conta, não viveu.


Lilia Maria

Realidade

Tudo muda
E eu fico muda,
A vida eu não posso parar,
Diante de tanta mudança
Só me resta aceitar,
E viver,
E curtir
A mudança que ainda vai vir.

Tudo muda,

A vida muda,
E eu muda feito uma porta.
Eu só paro de mudar
No dia em que estiver morta.

Lilia Maria


Quando escrevi este poema, a minha vida estava de ponta-cabeça. De repente, no espaço de uma semana, comprei o apartamento onde moro, troquei de carro, mudei de local de trabalho, enfim, as coisas foram todas para os devidos lugares.



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Epitáfio

Aqui jaz Lili,
A maluquinha do verão,
Que não guardou as sementes do outono,
E em vez de curtir o inverno,
Mudou-se para o inferno.
Ainda bem que chegou a primavera.
Na próxima edição
E em vez de ser a eterna enamorada,
Vai renascer já vacinada 

Conta paixões desenfreadas.



Lilia Maria

Vou dormir de bem com a vida.
Uma vez eu disse que nada nem ninguém me tira a alegria de viver. E assim vai ser. Se morreu a Lili Maluquinha outra Lili um dia vai renascer e muito mais maluquinha do que aquela que acaba de falecer.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Coronelzinho


Coronelzinho foi um menino engraçado. Não, não fazia graça, nem sei se tinha bom humor. Quase não falava, quase não sorria, vivia meio alheio a tudo, como se aquele mundo em que estávamos não fosse o mesmo que o seu.
Embora fosse circunspecto e taciturno, quando chegava, chamava atenção. Tinha o porte, a elegância, a beleza de um príncipe que nunca se misturava aos plebeus.
Não me lembro de uma única vez que tenha participado das nossas brincadeiras. No intervalo das aulas, nos parcos 20 minutos que tínhamos, ele estava sempre sentado na mureta, naquele mesmo lugar. Era como se lá estivesse seu trono, onde ele, em sua majestade, observava a plebe saborear o pão e se divertir no circo que virava o pátio nessas horas. Nós éramos felizes e sabíamos. E ele, era feliz? Talvez o fosse, dentro do seu mundinho particular.
Não estou aqui para julgar. Creio que nunca ninguém conseguiu saber quem era de verdade o tal Coronelzinho. Tanto ele poderia ser um menino pobre como um pobre menino. Um menino pobre, que inconformado não queria que ninguém soubesse da sua real situação. Ou um pobre menino preso dentro de si mesmo, sabe-se lá por qual motivo.
De vez em quando, quando me lembro do Coronelzinho, eu o vejo vestido como um abastado fazendeiro: botas de couro caprichosamente lustradas, camisa impecavelmente branca, colete com um relógio de corrente e chapelão. É uma bela visão. Igualmente chama atenção. Um homem de respeito, olhar duro, cara fechada, mandão.
Quem sabe um dia, nessas voltas que a vida dá, eu tropece naquela figura e finalmente descubra o que vai em seu coração
.
Lilia Maria

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Temperança


O sal da lágrima rolada
Parecia temperar a vida
Que andava tão indefinida,
Tão carente de sabor,
Tão carente de saber.
Fazer o que?
Chora mais um pouco,
Que ainda falta gosto.
Depois, esquece!
E recomece outra vez.


Lilia Maria

Calvário

Foi assim que o mundo viu
O zumbi de retina transparente
Chorando o sangue de suas entranhas
Brotando direto do coração.
Quem é louco?
Quem é tosco?
Perguntas inúteis
Nos tempos de chuva
Que inunda a terra
E a faz flutuar
Toda sujeira que havia no ar.
Segue o caminho
Em tortuosas cenas
Que arrebentam a alma
E arrebatam a calma.
Segue o caminho
Que leva direto a qualquer lugar,
Pois qualquer lugar
Parece mais seguro
Que o ponto de parada
Onde fui te encontrar.

Lilia Maria


Este poema foi escrito em 2009 para minha amiga Cris que passava por uma grande provação. Felizmente depois da tempestade que não deixou nada no lugar, hoje ela vive uma calmaria que espero que dure para sempre. Amém...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Faz de conta

Na conta do faz de conta,
Tudo conta,
E conta contra
Aquilo que sempre quis.
Um fazia de conta que amava,
O outro, que era feliz.

E com tanto faz de conta,
Feito um conto,
A história se passava.
O mundo todo admirava,
Parecia até conto de fada.
Um fazia de conta que era tudo,
O outro, que era nada.

Quando se conta o faz de conta,
Não é conta de chegar,
Aquele faz de conta
Parecia não terminar.

Vamos então fazer de conta
Que a conta vamos acertar,
Faz de conta que foi tudo "faz de conta",
Faz de conta que eu não soube amar.

Lilia Maria 




Hoje meu casamento faria 30 anos.
O poema "Faz de conta" foi escrito depois da minha separação, quando eu me dei conta que eu queria tanto que desse certo que fui me deixando levar pelo "faz de conta". Não dá para ser feliz assim. Talvez tivéssemos sofrido muito menos se na época eu percebesse algumas coisas que percebo hoje.  
Agora não importa, foi um aprendizado. Difícil com certeza, mas passei na avaliação final. Acho que um dos dias mais gratificantes dos últimos tempos foi quando escutei das minhas filhas que hoje eu sou uma pessoa muito melhor.
Embora eu saiba que nunca mais vou realizar o sonho de comemorar Bodas de Prata ou de Ouro como meus pais e meus avós, a dádiva maior é não ter perdido a capacidade de amar e de buscar ser verdadeiramente feliz.

domingo, 18 de setembro de 2011

O "Pai Nosso" que Jesus me ensinou

Pai nosso que está nos céus
Zelando por nós e por nossa jornada,
Santificado seja o seu nome
E que nunca o usemos em vão,
Que o seu reino possamos habitar,
Pois és generoso em sua acolhida.
Que a sua vontade prevaleça sobre os nossos desejos
Tornando-nos dignos de suas bênçãos
Em todo o tempo e lugar.
Dê-nos Senhor, o pão que alimenta o espírito
E nos faz viver dentro dos seus ensinamentos
De bondade, justiça e amor.
Que os nossos pecados sejam compreendidos e perdoados,
Pois o perdão e a compreensão devem fazer parte das nossas vidas
E de todos aqueles que nos cercam.
Não nos deixe trilhar caminhos escuros,
Sem a sua luz que nos mostra

Quem somos,
Por que somos
E onde estamos.
Dê-nos Senhor um voto de confiança
E nós mostraremos que somos dignos do seu amor infinito.
Agora e para sempre,
Amém


Lilia Maria

Esta oração já foi postada em "Folhas Soltas". 

Siga em frente


Sem saber de nada
Vai vivendo tudo,
De ponta cabeça,
Devagarzinho,
De supetão.
Lá na frente a gente acerta
A conta,
O espólio,
O sofrimento em vão.
Águas calmas
Não lavam a poeira,
Não levam o lixo,
Não causam revolução.
Não tem que a semente morrer
Para a vida ter continuação?

Lilia Maria

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Desesperança

Que braços se abrirão
Para acolher este anjo
Que viu negado o direito
De continuar a jornada
Neste mundo e entre nós?


Como dizer esta criantura
Que acabaram-se os sonhos,
E que as esperanças se esvaíram
Por entre os dedos
Que estavam a segurá-la?


Como explico a ela,
Que o amanhã não virá,
Que o dia não amanhecerá,
Que a flor não desabrachará,
Que o livro se fechará?


Como eu digo?
Não, não há o que dizer.
Somos impotentes
Diante da vontade maior
Que a roda da vida impõe.

Lilia Maria

A primeira versão deste poema foi escrito há muito tempo para ilustrar uma palestra da minha amiga psicóloga Sandra Cardoso. Ela iria falar sobre crianças com câncer. 







Preguiça

Viva a preguiça
Do fim de semana!
Acordar com sol alto,
Ficar rolando na cama,
Levantar bem de mansinho,
Mas só quando o sono acabar.
Ficar sem fazer nada,
Não ter com que se preocupar.
E, se aparece a vontade
De sair ou trabalhar,
Sentar na varanda,
E esperar tudo passar.


Lilia Maria




Ando com saudades desta "mordomia". 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Diacrítico

Esta palavra não fazia parte do meu dicionário até que fui trabalhar com as bibliotecárias da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo para desenvolver o Sistema Fastcat.
Lembro-me que na primeira reunião que tivemos, a chefe da catalogação, Edna Maciel, falou muito sobre o problema dos diacríticos (que na minha ignorância eu escutava “dias críticos”) do sistema Dobis Libis, que era então o gerenciador da Rede de Bibliotecas Públicas e Infanto-Juvenis.
Devo ter passado a reunião toda com cara de “pois é”. Que raio de coisa era essa? Dia crítico? O sistema fica menstruado? Entra em crise? Fica estressado?
Felizmente para os meus propósitos esta informação não era importante. Voltei para casa pensando no sistema que eu iria desenvolver e praticamente esqueci o assunto. Sem dúvida se o outro sistema era um "adolescente rebelde" que tinha os seus “dias críticos”, o meu não iria ter.
Dias depois, trabalhando com a Sonia Bertonazzi, que foi o meu braço direito e esquerdo no desenvolvimento do Fastcat, acabei descobrindo o que era o tal “dia crítico” e ri muito do monte de bobagens que pensei.
Um diacrítico é um sinal ou acento que se coloca junto a uma letra para alterar seu som, para indicar uma inflexão de voz ou para marcar alguma outra característica. Estes sinais podem ser colocados sobre, sob, ao lado ou através das letras. Os acentos gráficos típicos do Português, como o til e a cedilha, são exemplos de diacríticos.
Ah! Sim... Fastcat não significa “gato rápido” como algumas pessoas na época imaginaram. Fastcat vem de catalogação rápida.

Lilia Maria

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Vem sem pressa


Na pressa se tropeça
Nas pregas do tempo
Escondidas da razão.
No andar trôpego do caminhante
Vislumbra-se a ansiedade de chegar.
Pois então...
Vem devagar,
Vem com calma,
Vem olhando cada passo,
Não se perca do caminho
Traçado com tanto carinho
Para não ter como errar.
Se a espera é difícil,
Mais difícil é não ter
O tempo para caminhar.

Lilia Maria

O espantalho e o bem-te-vi


Tinha coração de matéria plástica,
Olhos arregalados,
E boca carmim
O espantalho engraçado
Que morava no quintal.
Espantava o colibri,
A pomba, o sanhaço e o pardal.
Só não espantava o bem-te-vi
Que vivia cantando ali.
Te vi também meu bem,
Bem querer te trouxe aqui.
Fica comigo mais um pouco,
Até a chuva passar,
E aí volte a cantar.

Lilia Maria

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Nem tudo é o que parece

O que vem devagar
Pode ganhar pressa
E aí a história recomeça.

Uma palavra dita
No acaso de uma conversa,
Vira um grande discurso
Disfarçando a confusão.
Não era hora da resposta,
Ou de uma constatação.

Um gesto sem importância
Tem o peso multiplicado
Se não era esperado.
Não era para ser dramático,
Apenas tinha que ser enfático,

Mas nunca desafiador.

Somos gestos e palavras,
Somos pensamentos,
Somos emoções.
Mas nos guardamos como segredos
Quando temos medo
De mostrar o lado do avesso.


O que vem de repente
Pode ganhar força
E mudar o fim do que já terminou.

Lilia Maria

Tudo bem para o ano que vem?

Ando pedida nas horas,
O tempo passa
E eu não percebo.
De repente escureceu,
O dia acabou,
Mais uma semana findou,
O novo mês chegou,
Só eu não cheguei
Onde deviria estar.
Tem como me esperar?

Lilia Maria

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Fim de estação

Procurei em setembro
O que achei em outubro
E vivi em novembro.
Floresceu em dezembro,
Fora de hora por sinal,
Pois o que nasce
No findar da primavera,
Morre durante o verão.

As lágrimas vieram no outono,
Fechando o ciclo
Que parece encerrado.
O inverno passou ileso,
Mas ainda não terminou a estação.
Ai de mim,
Se a vida inteira for assim.
Lilia  Maria

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Responda se puder

Amor, via de mão dupla,
O meu, contra-mão,
Tenho amor então?

Triste é o fim,
Seja lá do que for,
Estou triste, acabou?

Nasce e renasce,
Há luz sempre a brilhar,
Por que não quero enxergar?

Ficar sentada na estrada,
Esperando a vida passar,
Posso na vida embarcar?

Doce mistério da vida,
É o mundo a desbravar,
Alguém pode me ajudar?

Ganhar o jogo de virada
É o sonho do jogador,
Volto então a jogar?

Pergunta sem resposta
Sempre se pode fazer,
Alguém vai me responder?

Espelho, espelho meu,
Espelho que Deus me deu,
Existe alguém mais louca que eu?

Lilia Maria

domingo, 4 de setembro de 2011

Ciber-mundo ou mundo real?

Ontem, arrumando as coisas na minha estante, abri mais uma vez a caixa em que guardo inúmeros bilhetes, cartões e cartinhas da época do colégio e da Universidade.
Lembro-me bem que quando estava no primeiro colegial tínhamos uma turma incrível. Éramos bastante unidos. Não sei como tudo começou, mas de repente, em vez de conversarmos trocávamos bilhetes. Quase nada era escrito durante o período de aula. Normalmente escrevíamos em casa e no outro dia entregávamos. Muitos eu já não tenho mais, não consegui salvá-los da minha mãe, que numa das inúmeras arrumações em sua casa jogou fora caixas e caixas de papel.
Transcrevo aqui um parágrafo do que li ontem antes de dormir. Foi escrito em 29/04/1970 pela Elba.
“Sabe, hoje a Denise disse-me uma coisa que me deixou muito triste, mas acho que vou resolver isso. Ela disse que nós pegamos a mania de escrever uma para a outra e não se conversa mais. Acho muito bacana receber cartas de vocês. Mas também fico triste quando a gente passa muito tempo sem conversar. ...”
Naquela época não tinha e-mail e muito menos redes sociais. Se tivesse certamente estaríamos com a caixa postal cheia, montes de postagens e muito pouca conversa.
Claro que o ciber-mundo facilita tudo, mas muitas vezes sinto falta da interação. Eu entrei numa rota pior ainda... Quando só havia e-mail eu me comunicava com pessoas que estavam distantes. Escrevia muito e recebia muitas respostas. De repente os meus e-mails são monte de apresentações do Power Point. Lindas com certeza, mas bastante impessoais, até porque são enviadas no “atacado”.
De repente com as redes sociais eu tenho notícias de todo mundo. Sei quem viajou, quem ficou em casa, quem adoeceu, quem está triste, curti fotos, até deixei recados e muitas felicitações pelos aniversários. Essas coisas estão se tornando quase que automáticas, mas ando me sentindo muda.
Mais que isso... Será que aquela pessoa que disse que curtiu a minha última postagem no blog teve a curiosidade de ler o que realmente eu escrevi? O meu contador de acesso em geral diz que não. Enfim...
Vamos lá... Nada vai mudar... Mas estou registrando aqui que quero muito mais do que o ciber-mundo pode me dar... Quero viver no mundo real. Quero dar e receber abraços de verdade. Quero sentar na padaria da esquina para tomar um café com aquelas pessoas que quero bem. Quero interação pessoal. Corpo a corpo, olho no olho, ouvir a voz, falar.
Quem me acompanha?

Lilia Maria

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Guardados

Quando a inspiração acabar
E o coração um poema pedir,
Lance mão de velhas histórias
Que ainda inquietam a alma
E aquecem o corpo adormecido.
Não há como sepultar
O que vive latente
Anos a fio.
Não há como esquecer
Emoções que ficaram cravadas,
Cicatrizes ainda doloridas,
Imagens que olhamos enternecidas,
Palavras que calaram fundo.
A vida acontece apesar de tudo,
Mas as lembranças seguem conosco.

Para sempre.

Lilia Maria

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Dormir de colherinha

Dormir de colherinha... ou de conchinha... é tudo de bom...
Quando eu ia me casar, um amigo falou muito sério para nós dois: olha, nem tentem dormir agarradinhos... sobra braço, sobra perna... Fala boa noite, dá beijinho, e depois é “bunda com bunda...”
Na minha santa inexperiência, achei que estava certo. Mas o tempo foi passando, e a gente foi se conhecendo e se soltando... O sexo foi ficando mais gostoso... os limites foram se alargando... idéias foram surgindo... Hoje o meu conselho para moças casadouras seria este:
A dois, entre quatro paredes não tem proibido. Tem que ter entrega, tem que ter confiança, tem que ter vontade de agradar.

De repente o dormir “bunda com bunda” é bom, mas tem coisa melhor... Um dia se acorda exatamente na posição que se estava no último minuto do suspiro final do orgasmo fatal. Fatal, porque depois dele parece que o mundo acabou... E vocês estão renascendo... leve... gostoso... uma letargia só...
Dormir de conchinha é tão bom quanto isso que eu acabei de escrever. Não precisa nem passar a noite toda encaixadinho. É fazer a parceira adormecer... É o aconchego... É o se sentir gostado... Mesmo que não rolou sexo, é quase tão prazeiroso quanto o melhor dos sexos que se pode proporcionar para alguém... Aliás, se o sexo não for tão bom, acredite, uma mulher certamente vai achar o melhor da vida dela se o parceiro terminar a noite assim...

Lilia Maria