segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mais uma maluquice da Lili


Com a casa ficando mais vazia, resolvi que era hora de mudar algumas coisas. Replanejei a distribuição dos móveis, troquei o lugar de guardar algumas coisas, doei minha estante de livros (vazia) para minha filha, enfim, estava tudo correndo bem, mas as paredes precisavam de pintura nova.
Depois de três orçamentos cheguei à conclusão que teria que optar: ou pintura ou as coisas que precisava fazer para concluir a redecoração da casa. O problema não era comprar o material e sim a mão de obra. Como artesã que sou, sei que é precisa valorizar o trabalho alheio, mas R$ 2.500,00 para no máximo uma semana de trabalho, realmente sai de qualquer expectativa de custos que eu imaginava.
Hoje cedo, olhando o armário que fica na varanda do meu quarto, vi que havia uma lata de tinta para teto de banheiro, pinceis e rolos. Resolvi experimentar. Se não der certo, agora é custo zero, se der certo, devagar eu pinto tudo e o dinheiro vai ser suficiente para o resto.
Então, mãos à obra. A primeira demão foi dada. Não ficou mal. Um dia ainda viro "marida de aluguel"... rs... Coisas de Lili.

Lilia Maria

domingo, 27 de novembro de 2011

Mercador de sonhos

Passou por mim,
Ofereceu um sonho,
Depois outro,
E mais outro depois.
Fiquei com todos.
E sonhei...

Alguns, realizei
Outros guardei,
Preenchi minhas gavetas,
Coloquei no fundo do armário,
Tranquei no cofre,
Cada um teve seu fim...

Mas a gente cresce,
E esquece,
Que é preciso sonhar...

Qual o limite de um sonho?
Até onde eu posso chegar?
O que me é permitido sonhar?

Difícil responder,
Difícil explicar...
Não há limite pra sonhar,
É sempre permitido ousar.

Preciso limpar minhas gavetas,
Tirar tudo do armário,
Achar a chave do cofre,
Resgatar meus velhos sonhos.
Dividi-los com amigos,
Retomar um de cada vez.

E, quando o mercador
Por mim de novo passar,
Vou trocar antigos por novos,
Outras possibilidades experimentar,
E solenemente vou jurar:
Nunca mais paro de sonhar!

Lilia Maria

Dor de amor

Onde dói o amor perdido? 
Como é a dor do amor doído? 
É dor latente, 
Dessa que enlouquece a gente? 
É dor ardida 
Como de uma profunda ferida? 
É dor dormente 
Como se fora um membro amputado que ainda se sente? 
Onde dói a dor de amor? 
Na alma? 
No coração? 
Só sei que não é como a dor doente, 
E doi de forma diferente. 
Não adiante pílula ou compressa, 
Não tem cura por promessa. 
Mas passa, um dia passa, 
E se não passar, paciência, 
Aprenda a com ela conviver. 

Lilia Maria

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Calmaria

Quem buscou um velho segredo
Guardado no fundo da minh’alma
Não encontrou nada além de sonhos
Da menina esquecida num canto da sala.
Quem viu a menina com lágrimas nos olhos
Nunca soube por que chorava
Ou por que mesmo sorrindo
O olhar ainda era triste.
Quem viu a tristeza no semblante sereno
Não entendeu as mãos postas em súplica
Como se orasse em penitência
Pelo pecado não cometido.
Nem segredos nem pecados,
Só a imagem quase apagada,

Que ainda guardo enternecida.


Lilia Maria

Olhares


Minhas vestes cobrem apenas a nudez,
A alma continua exposta.
Quem me vê com os olhos,
Enxerga o colorido das roupas,
Mas não a cor da emoção.
Quem me vê com o coração,
Percebe a palidez do silêncio
Que guardo não sem razão.

Lilia Maria

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Regras do jogo

Peça licença para entrar,
Mas só venha se for ficar.
Não tenho espaço
Para quem vem de passagem,
Não tenho paciência
Para quem não traz bagagem.
Prefiro a parceria do sonho
À uma promessa sem lastro.


Lilia Maria

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Não tenha medo

Meu amor parece um passarinho,
Tem medo de voar
E não saber voltar ao seu ninho.
Tem medo de trovão
E se esconde do barulho.
Tem medo do escuro
E se esconde na sombra.
Tem medo do alçapão
E se esconde na gaiola.
Calma lá amor-menino,
Velhice não tira a força das asas,
Só faz crescer a solidão.


Lilia Maria

Fotografia

A foto do porta-retrato
Não faz jus à imagem real,
Não tem profundidade
Nem conta sua história,
E vai ficando amarelecida.
A cor se esvai com a vida,
Mas deixa a saudade no tempo.


Lilia Maria

sábado, 12 de novembro de 2011

Momento


A beleza de um momento
Pode estar em um gesto,
Em uma palavra,
Em um simples olhar.
Pode ser apenas um lapso,
Segundos eternos,
Preciosos,
Arrebatadores,
Que são lembrados
Mesmo quando parecem esquecidos,
Deixados ao acaso,
Relegados ao segundo plano
Que sempre pode existir.
Não importa.
Basta saber que foi vivido.

Lilia Maria

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Pensando no ano novo

Ano novo,
Novos tempos,
A vida se renova.

Novos sonhos,
Novos projetos,
Novas paixões,
Grandes emoções...

E, se nada for novo...
De novo,
Faça o velho se renovar.
Ponha cores em velhas cores,
Dê lustro,
Espante a poeira,
Dê brilho!

Refaça caminhos,
Olhe por novos ângulos,
Recicle,
Releia,
Modifique regras antigas.
Faça adaptações!
Grandes, médias, pequenas,
Não importa!
O que conta é saborear a vida,
É curtir cada tantinho,
Ardorosamente,
Cuidadosamente,
Apaixonadamente,
Sempre e para sempre...

Lilia Maria


Escrita para saudar o ano de 2006, hoje minha amiga Rô Martins me fez resgatar este pensamento. Vale não só para um novo ano, mas para a vida.

Violino

O arco estava torto,
Parecia quase morto,
De tanto trabalhar,
Só queria descansar.

O breu quase acabado,
No canto da caixa jogado,
Só queria ser guardado,
Só queria sossegar.

Na estante a partitura,
Repousava semiaberta,
Guardava a tablatura,
Uma nova música, na certa.

E o pobre violino,
Que a ribalta acolheu,
Ficou sonhando com aplausos
Que a dona recebeu.

Lilia Maria

O violino em questão pertenceu à minha mãe e hoje é da minha filha. A história deste belo instrumento musical, que já está na família há mais de 60 anos, já foi postada no meu blog anterior, mas quero mais uma vez compartilhá-la. Eis:

Minha mãe, muito antes de se casar com o meu pai (lá se vão mais de 60 anos!) tinha paixão por música e em particular por violino. Meu avô, a custa de muito sacrifício, comprou um para ela, já de segunda mão, bastante usado e meio gasto, mas com um som lindo.
Quando ela começou a namorar meu pai, certamente por ciúmes, ou do professor, Maestro Serafim Batarsa, lá de São Carlos, ou da devoção que ela tinha pela música e o seu violino, conseguiu que ela largasse tudo. Claro que ele prometeu que depois de casada ela poderia, aqui em São Paulo, voltar a estudar. Provavelmente ele deve ter dito a ela que uma das primas era casada com o Maestro Francisco Casabona e que isto facilitaria conseguir um bom professor.
A promessa eu sei que foi feita, mas nunca cumprida, pelo menos não com relação ao violino. Um belo dia ele apareceu com um acordeão lindo e um professor à tiracolo. E a violinista acabou virando sanfoneira... Eu devia ter entre quatro e cinco anos na época.
O professor era um espanhol, Sr. Marcelino, conhecido como El Manito. Ele tinha vindo da Espanha não fazia muito tempo. Era sapateiro na Vila Madalena, se não me engano na Rua Girassol, e dava aulas de música à domicílio. Ele tinha um porção de filhas e um filho. O menino, que sempre o acompanhava, era um gênio musical. Volta e meia ele aparecia na TV, em programas infantis, tocando diversos instrumentos. Eu me lembro ainda do dia que ele estreou o saxofone na cozinha da minha casa (que era o lugar onde minha mãe tinha aula).
Anos depois, na época da Jovem Guarda, qual não foi a minha surpresa ao ver o filho do Sr. Marcelino, agora “batizado” com o apelido do pai, Manito, fazendo parte do conjunto “The Clevers” que depois se transformou em “Os Incríveis”.
Mas voltando ao violino, vi minha mãe tocá-lo uma única vez. A música era Berceuse de Brahms.
Acho que a minha filha mais velha, Luciana, herdou o gosto musical da avó. Desde muito pequena sempre pedia para aprender a tocar violino. Eu não consegui conciliar meu horário com as poucas escolas de música que ofereciam o curso.
Quando adolescente finalmente, por conta própria, ela procurou a escola e se inscreveu. A avó então, lhe deu de presente o famoso violino, agora já mais que centenário. Ele foi restaurado por um especialista que se encantou com a preciosidade.
Em 2002, quando aconteceu a primeira apresentação eu escrevi o poema, não sei se para ela ou para ele.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Coisas da vida


Há coisas na vida
Que é preciso experimentar
Sem medo de perder,
Sem medo de gostar.
Há coisas na vida
Pelas quais precisamos passar
Sem medo de viver,
Sem medo de se magoar.
Há coisas na vida
Que precisamos sentir e deixar ficar
Sem se arrepender,
Sem se amargurar.
O naufrago que sobrevive
Jamais abandona o mar.

Lilia Maria

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

De olhos abertos


Olho gaveta abarrotada
De sonhos, desejos e fantasias.
Fecho rapidamente
Antes que saiam dali.
Preciso de fatos concretos,
Dados, fotos e objetos.
Coisas que me remetam ao que há
E não àquilo que já existiu
Ou que foram apenas frutos da imaginação.
Não é tempo de utopias,
De flutuar em nuvens coloridas,
De viver em devaneio.
Agora tem que ser apenas realidade,
Depois posso voltar a sonhar.

Lilia Maria

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Conformismo


Bem querer mora lá,
Onde eu deixei ficar.
Não ocupa espaço,
Mas ocupa o tempo,
Tempo de perder,
Tempo de achar.
Achar que a vida é vazia
E assim se acomodar.

Lilia Maria

Maluquices de Lili (II)

Mato a sede,
Espanto o frio,
Mas sou boazinha,
Viu?

Maluquices de Lili (I)


Era tanta gente!
Gente que não acabava mais.
Brancos, pretos, amarelos...
Deus, por que não há gente lilás?
Tem gente verde-doença,
Cinza-fuligem,
Vermelhos meio canibais.
Tem gente que até não tem cor
De tanto se isolar,
Mas nunca vi alguém lilás.


Lilia Maria

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Divagando

Quando acaba a primavera
Ainda restam flores a desabrochar,
É como chegar na velhice
E de novo aprender a namorar.
Reaprendemos aprendendo
Ou aprendemos a reaprender?
Nunca é como foi,
Nunca foi como será.
E a vida continuará.

Lilia Maria

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Abraços

Você já pensou que um abraço é muito mais íntimo que um beijo?
De repente é assim...
Você mal conhece a pessoa e já oferece o rosto para o beijo...
Os lábios tocam sua pele, solta um estalido e pronto, já foi...
Já o abraço... Ah! o abraço!
A gente não sai abraçando por aí...
Abraço é coração com coração,
Às vezes até batendo em uníssono!
Dois braços o envolvem e oferecem aconchego.
Normalmente este aconchego é mútuo...
Dificilmente alguém abraça sem ser abraçado,
É quase um ato contínuo.
É energia trocada...
É sentimento compartilhado,
Seja ele de alegria ou de pesar.
Os corpos se tocam em muitos pontos,
Você sente o perfume,
Você sente a vibração,
Há sempre emoção...
Não importa o motivo do abraço,
Ele é sempre carregado de carinho,
De vontade de estar junto,
De envolvimento,
De consideração,
De doação,
De respeito.
Seja o abraçado amado ou amigo,
Este é o momento do encontro das almas,
Até porque o amigo sempre é muito amado!

Lilia Maria