quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ciberabraço (Ciberpoema)

Direto dos campos de Piratininga,
Da São Paulo desvairada,
Segue o abraço cibernético
Seguido do beijo torpedo
Para os reais amigos
Que habitam o virtual
Dos Orkuts e dos Plaxos,
Dos Facebooks e dos Sonicos,
Dos e-mails e dos Messengers.

Ontem se colocava a "boca no trombone"
Para reclamar das agruras da vida
Ou para alardear a felicidade extrema,
Hoje Twitamos com muita classe
Em 140 toques do teclado
Deste companheiro inseparável
Que acabou fazendo parte da nossa vida
Quase como uma vestimenta
Que cobre os nossos pudores.

Vamos em frente que a vida não para,
Não é como o processador
Deste meu pequeno computador
Que obedece direitinho
Quando mando hibernar.
Encontro vocês numa esquina qualquer
Do ciberespaço ou do espaço real
Para um café bem quentinho e
Um dedo de prosa sobre o mundo atual.

Lilia Maria

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Amor triangular

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
Toda reta é uma curva,
Nem toda curva reta está.
Se tentar curvar
E a reta se quebrar,
Fez um ângulo dos pedaços
E ainda dá para aproveitar.
Essa tal de geometria
Parece que nunca vai acabar,
Do ângulo faz triângulo,
E aparece mais um "causo" a estudar.
Pode se equilátero
O amor triangular?
Nem em sonho esta teoria
É possível demonstrar,
Pois nem sempre nós estamos
Onde o nosso coração queria estar.

Lilia Maria

Indecifrável

Indecifrável é o tempo
Que demora para chegar,
Um suspiro, um pensamento,
Uma palavra solta no ar.

Undecifrável é o peso
Da nuvem a flutuar,
Caminhando ao sabor do vento
Sem saber onde chegar.

Indecífrável é a vida
No ponto de inflexão,
Seguir em frente é martírio
Voltar é indefinição.

Indecifrável é o homem,
Ser que um dia Deus criou,
Que não acredita ser obra divina
Porque pensa que o Pai o abandonou.

Indecifrável é este poema
Que construo palavra a palavra
Imaginando que quem o ler
Não saberá se é de minha lavra.

Indecifrável sou eu,
Que já não sei para onde ir,
A vida se abre em muitos caminhos,
Não sei para onde seguir.

Lilia Maria


Estou cansada... Os pensamentos não engrenam... E quando começa a fluir, tropeço em mais um dúvida que não sei quem pode me responder.
Mas sou persistente, devagar eu chego lá...

Poetizando XII


Horizonte vermelho no entardecer,
Teremos sol quando o dia nascer.
Horizonte vermelho no alvorecer,
É certo que vai chover.

Lilia Maria

Simples assim

É dia,
Bom dia!
É noite,
Boa noite!
Automaticamente,
Sistematicamente,
Compulsivamente.
Não era mais fácil
Dizer apenas olá?
Olá pra quem fica,
Olá pra quem vai,
Olá, minha gente,
Acabei de acordar.
Não, não estava dormindo,
Apenas brincando de sonhar.


Lilia Maria


Este poema havia nascido sem nome e foi postado lá no Facebook. De repente  um comentário da Selma Gomieiro batizou a composição.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Boneca de trapo

Branca boneca
De tranças de lã,
Perdida na tralha
Que alguém esqueceu.
Tem história,
Tem vida,
Mas não pode contar.
Seus olhos bordados
Com fios de retroz
Parecem estar vivos
E olham suplicantes
Para tirá-la de lá.
Sua boca carmim
Feita de feltro
Sorri conformada
Com seu triste fim.
Não chora, boneca!
Nada termina assim...
Vou fazer de você
O retrato de mim.
 
Lilia Maria

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Chantecler

Je suis Chantecler.
Mon histoire est très triste!
Je croyais que mon chant faisait lever le soleil.
Um jour, je me suis endormi.
Les heures passèrent.
Le matin arriva.
Et je dormais toujours.
Tout à coup, j’ouvris les yeux.
Le soleil brillait déjà dans le ciel.
Il faisait clair.
Le soleil s’était levé sans moi!
Quelle disillusion!
Quelle tristesse!
Desconheço o autor

Sou de um tempo que tínhamos que aprender francês e inglês na escola. Consegui por pouco escapar do latim, o que não sei se foi alguma vantagem.
Chantecler, a história do galo que se achava o centro do mundo, ilustrava uma das lições do meu livro de francês. Muito bem decorada, assim como "L'automne" de Victor Hugo, eu vivia declamando entusiasmada. 
Há algum tempo isto foi lembrado em uma conversa no MSN com a minha prima Silvana. Na época ela morava em Fortaleza. Falávamos do meu lado poetisa quando ela de repente escreveu "Chantecler". Nossa... Foi uma viagem no tempo. Postei o poema e um pouco da nossa história que transcrevo aqui.

Eu morava na Vila Buarque e ela no Pari. Os finais de semana, sempre que podíamos, passávamos juntas. Domingo era dia de matinê. Não dispensávamos assistir um bom filme num dos cinemas do centro.
Quando fui morar no Sumaré, ela sempre vinha para a minha casa, e com isso ela acabou conhecendo a maioria dos meus amigos. Eram festas, bailinhos de garagem, missa no Colégio Anchietanun, e tudo mais que a turminha de jovens curtia naquela época. Quando estávamos um pouco mais velhas, ganhamos alvará para viajarmos sozinhas para São Carlos para visitar nossos avós.
Mal colocávamos as malas no quarto já etávamos sasaricando pela cidade. Ô época boa... Antes, ir para o interior dependía da disponibilidade dos nossos pais, agora tinha ficado muito mais fácil. A vida então era uma festa.
Tenho até hoje guardadas inúmeras cartas que ela me escreveu quando fui estudar na EESC. Nossas vidas acabaram tomando rumos diferentes. Casamos, descasamos, ela tornou a se casar, mudou de estado, mas sempre continuou querida, confidente, conselheira...


Agora pouco vi no Facebook uma mensagem da minha amiga de longa data, Jurema Barbi, em fracês, língua que ela vive exercitando por conta de ter uma netinha francesa que não fala português. Imediatamente lembrei do poema e da postagem antiga que havia sido feita no meu blog anterior.
Para terminar, transcrevo também a frase que encerrou a antiga postagem:

Quando a amizade é verdadeira, nada faz com que ela se acabe.
 
Lilia Maria

Estimativa

Tudo aquilo que não se vê
Dentro do ângulo de visão,
É possível enxergar diferente
Com os olhos do coração.
E faz de conta que é real
A imagem que ficou retida
No arquivo das lembranças da vida.
O que fica guardado
Serve de parâmetro ou medida
Para calcular o momento atual.


Lilia Maria

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Procura-se


E eu sigo na batalha
De de fugir de amor canalha.
E ficaria bem contente
Se achasse alguém diferente. 

É desejável ser fiel,
Mas é imprescindível ser honesto.
Não precisa ser bonito,
Mas tem que ser presente.
Não precisa ter dinheiro,
Mas tem que ser companheiro
Não pode ser mentiroso
E tem que apreciar o que é gostoso.
Não precisa ser para sempre,
Mas que cada momento seja infinito.


Lilia Maria

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Cada coisa a seu tempo

O que passou foi o vento
E o vão pensamento
Que a alma arrepiou.
Não tem susto
Nem custo
Seguir a trilha
Que na terra se formou.
Volta pra casa,
Volta pra vida,
Deixa o tempo correr
Que um dia ainda acho você.

Lilia Maria

Triangular


Toda forma se transforma
Se não for triangular.
Ponha trava, 

Trace triângulos,
Para a forma conservar.


Lilia Maria

Na medida certa

Amor não se mede em palmos,
Em jardas, ou polegadas.
Não se mede com trena,
Com paquímetro ou fita métrica.
Amor não se mede...

Não tem amor maior ou menor,
Não tem amor mais raso ou mais profundo.
Amor é amor...
Não tem peso nem ocupa espaço,
Não tem melhor nem pior.

Não tem amor de brincadeira,.
Não tem amor em dose dupla,
Amor vem na medida certa.
E tão certa é a medida,
Que cada um tem quanto precisa.

Lilia Maria


Falei em medida de amor... Mas e a idade? Amor tem idade? Não idade no sentido de amar depois dos 30, 40 ou 50... É idade mesmo, tipo "amo Fulano há 45 anos"... E tendo idade, o amor envelhece? Floresce? Rejuvenesce? Renasce? Coisas para se pensar... 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Desperdiçando palavras


Uns vão de taxi,
Outros vão de trem,
Mas o que importa de verdade
É poder chegar bem.

Sabe o que é isso?

Escrever alguma coisa
Pra ver se de repente,
Alguma idéia vem.

Céus! De encomenda

É difícil soltar a mão,
E fazer tanto vazio
Virar inspiração.

Lilia Maria

sábado, 19 de maio de 2012

Música mística

A clave de sol na partitura
Comanda o caminhar da canção
Nos compassos sem espaços,
Sem pausa,
Sem andamento.

São do-re-mi’s que ficam silentes,
Esperando a vez de se expor
Pelas fusas e semifusas,
Confusas...
No meio da pauta musical.

De repente
O som angelical
De harpas, flautas e violinos,
Inundam o espaço
Em cheias semicolcheias
Que agora têm a voz de comando.

E a música que encanta,
Que faz nascer emoções,
Que envolve a alma
E abranda corações,
Tem a mística tarefa
De virar recordações.

Lilia Maria

O mundo devia ser musical...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Menina Bailarina

Segue a vida caminhando
Devagar e na ponta dos pés
Como se fosse a bailarina
Que a cada passo se equilibra
Mesmo saindo do tropeço,
Mesmo tendo que recomeçar.
Segue firme seu destino
Sem tempo de descansar,
Pois a música da vida não pára,
E vivendo é preciso bailar.
Salta, rodopia e volta a caminhar.
É assim e assim será.
Com cadência e maestria,
Viva a vida como um bailado
Que não tem hora para terminar.

Lilia Maria


Poema escrito em maio de 2010. Marcaram os 50 anos da minha irmã.

(Re)Colhendo

São pequenos fragmentos
Que recolhemos ao longo do tempo
Que vão compondo a história de uma vida
Muitas vezes mais sonhada do que vivida.
Lembranças muitas vezes esquecidas,
Guardadas, trancadas, esmaecidas,
Que às vezes deixamos aflorar,
Agora até parecem sementes
Que, espalhadas ao longo da estrada
Florecem de forma desordenada.
Flores com cores e perfumes encantadores
Ou espinhos, guardados entre as folhagens,
Tudo tem que desabrochar!
É preciso cumprir o ciclo para a vida continuar.

Lilia Maria
22/03/2009
Este poema foi escrito para alguém que eu não via há mais de 40 anos. Não posso dizer que era um amigo, pois creio que falei com ele apenas uma ou duas vezes durante o ano de 1968. Porém estas poucas vezes foram tão importantes na construção da minha personalidade que jamais pude esquecer. Sou grata a ele até hoje por abrir os meus horizontes com as suas palavras muitos sábias para um jovem de 18 anos.
O reencontro foi uma experiência incrível! Por se tratar de alguém que foi um ídolo da minha adolescência, eu estava muito constrangida. Para mim era como se de repente o Chico Buarque estivesse ali na minha frente. Aliás, eu já conversei com o Chico e fiquei muito menos embasbacada do que estava naquele dia. Imagine só... eu era a própria idiota diante do ídolo.

Que pena!


Soletrar, solfejar, cantar.
Um escrevia a linha
O outro lia a entrelinha.
Pobre trovador!
Já não pode cantar o amor.
Não tem musa,
Não tem rima,
Perdeu o tom,
Perdeu o compasso.
Anda calado,
Parece sofrido,
Mas não tem coragem
De cantar suas penas.
Que pena!

Lilia Maria

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Auto análise


Tem gente que faz de tudo
Para não ser nada.
Tem gente que não faz nada
Para ser tudo.
Uns querem ser tudo
E não são nada.
Outros são tudo,
E se disfarçam de nada.
Eu queria ser apenas eu.

Lilia Maria

Presentes de Deus

Parecia que Deus me abandonara.
Tantas preces eu rezei,
Tantas coisas eu pedi,
Parecia que Ele não escutava,
Ou então eu não sabia orar.

O tempo foi passando,
Da minha tristeza fui esquecendo,
Os problemas fui resolvendo,
Aos poucos eu ia andando,
Um passo de cada vez.

Eu parei de rezar,
Parei de pedir,
- Deus não gosta de mim!
Minha vida continuou,
Até que com Ele eu me encontrei.

- Como podes pensar,
Que eu te abandonei?
Neste tempo de penúria
Quantos amigos
No seu caminho deixei?

Foi aí que percebi,
E devagar,  meio sem jeito,
Com Ele me desculpei.
Acreditem meus amigos,
Vocês são presentes de Deus.

Lilia Maria

Arbitrio

Se  Deus fecha uma porta, 
Ele abre uma janela.
Se a janela é estreita, 
Resolvemos quebrar a parede.
Ao quebrar a parede,
Muitas vezes o teto desaba.
E se o teto desabou, 

As vezes nos acomodamos
Bem no meio dos escombros. 
Ou então nos incomodamos,
Limpamos o entulho,
E construimos a casa outra vez. 

Lilia Maria

sábado, 12 de maio de 2012

Mundo da Lua

Ele mora na Terra,
Ela vive na Lua,
Ele tem os pés no chão,
Ela gira em torno e flutua.

De tanto olhar para baixo
E se apaixonar pelo planeta azul,
Esqueceu que ele vive no norte
E pousou suas asas no sul.

Não há como se habituar
Com rotinas que mudam volta e meia,
Ele aparece no auge do quarto minguante,
E ela só está disponível após a lua-cheia.

E assim vai, e assim fica...
Nada é definitivo neste mundo da lua.
Ele tem momentos de abandono,
Ela tem vontade de ser sua.

Lilia Maria

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Contraponto

Um dia, de repente,
Você amanheceu meu amor.
Assim, do nada.
Apenas amanheceu.
No outro dia, de repente,
Eu anoiteci seu amor.
Assim, do nada.
Apenas anoiteci.
Dia e noite,
Distantes,
Antagônicos,
Complementam-se,
Mas nunca estão no mesmo lugar.

Lilia Maria

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Vai ilusão, vai...

Deixei no canto
O encanto,
Que busquei tanto,
Mas de nada valeu.
Não porque o sonho se desfez,
Ou porque não foi como eu pretendia,
Mas porque não sobrou nada
Daquilo que eu sabia.
Desfez-se o mito,
Refez-se o ser.

Lilia Maria

sábado, 5 de maio de 2012

Sem palavras


Enquanto não rasgo o verbo,
Rasgo a página onde foi escrito.
E assim sem testemunha,
Fica o dito pelo não dito.

Lilia Maria

Semialgumacoisa


Meio a meio é sempre semi
Semirreta, semiplano
Semi o que você deixar.
Semitorta não se apruma,
Ou vem a fome aplacar.
Vamos ver como é que fica
O semi que eu quero usar.
Estou semicansada,
Semiangustiada,
Parada no semi do texto,
Que não consigo terminar.

Lilia Maria

Sem retrato

Tentei fazer seu retrato
Com bico de pena
E tinta nanquim.

Ai de mim...
Nada deu certo,

Não sou retratista.
Da arte do riscar e rabiscar
Só sei escrever de chofre
O que vem de dentro 

Desta artista de coração.
Sem seu retrato
Aqui você sai de cena,
E vira personagem
Da próxima edição.

Lilia Maria

terça-feira, 1 de maio de 2012

Poetizando XI

Dia bom de dia,
Dia de dia é bom.
Deixe de lado a nostaugia,
Ser feliz é um dom.

Lilia Maria

Poetizando X

Quando a cabeça não pensa,
O corpo padece.
Quando a cabeça pensa,
O corpo não se compadece
E dói, dói, dói...

Lilia Maria