sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Tempo

O tempo é implacável, leva nossas lembranças, marca os nossos sorrisos, vinca nossa tez, desacelera a nossa mente. 
Feliz daquele que consegue manter um bom relacionamento com este algoz inabalável. 
Feliz daquele que vê o tempo passar e passa junto com ele, sem crises existenciais, sem medo de viver, sem arrependimentos dos feitos e não feitos. 
Feliz daquele que se coloca dentro do tempo e o tempo dentro de si.


Lilia Maria

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Croquete da vovó

Quando eu era pequena, nada era mais esperado nas festas de família do que o croquete de carne da vovó. Receita? Não tinha, quem quisesse aprender, que ajudasse a fazer. Segundo meu pai, vovó Lilia havia aprendido com sua mãe, a vovó Raquel, e suas noras, minha mãe e a tia Lourdes, aprenderam a fazer direitinho.


Festa de aniversário sem croquete não era festa. Meus amigos quando convidados para comemorar meu aniversário, invariavelmente perguntavam se o quitute ia ser servido.

Ao longo da minha infância e adolescência fui participando do preparo até ser capaz de tocar a empreita sozinha com todo o sabor e requinte que deveria ter. A massa de carne tinha que ser cremosa e derreter na boca quando se mordia a casquinha crocante. 

Hoje em dia, volta e meia minhas filhas e seus amigos me pedem para fazê-lo e eu vou para a cozinha com muita alegria, pois sei que serão saboreados com o mesmo prazer que eu, meus irmãos e primos tínhamos em nossa infância.

Tudo começa com a carne moída sendo refogada com óleo, cebola, alho, salsinha, um pouco de noz moscada, tomate picadinho, uma pitada de pimenta do reino, sal e outros temperos que possam estar à mão.

Assim que a carne estiver toda refogada, coloca-se um pouco de água até cobrir. Quando estiver fervendo acrescenta-se um ovo batido, mexendo vigorosamente. A seguir mistura-se uma colher de sopa bem cheia de farinha de trigo em uma xícara de leite. Despeja-se a mistura na panela sem deixar de mexer para não formar grumos. Quando a massa toda estiver desgrudando do fundo da panela, está pronto. Coloca-se então numa travessa para esfriar.

Para dar forma aos croquetes é preciso de farinha de rosca e ovos batidos com um pouco de água e sal. É aí que o trabalho realmente começa. Cada bolinho é feito com uma colherada da massa de carne que deve ser passada primeiro na farinha de rosca, depois nos ovos batidos e de novo na farinha de rosca.

Para finalizar, cada croquete deve ser frito em óleo bem quente. Normalmente esta fritura deve ser feita numa frigideira alta ou numa panela, pois o óleo dever ser suficiente para cobrir o bolinho por inteiro.

Agora sim, é só sentar e se deliciar.

Lilia Maria

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O café nosso de cada dia

Na casa dos meus avós maternos três horas da tarde era sagrada. 
Um pouco antes deste horário minha avó Maria ia para a cozinha. Pouco depois o perfume do café se espalhava no ar. A mesa ia sendo posta entre a água borbulhar na panela e o líquido escuro e fervilhante escorrer pelo velho coador de tecido direto para o bule. Bolo, pão caseiro, manteiga, biscoitos, xícaras, tudo era cuidadosamente colocado à mesa esperando a hora de serem consumidos.
Parecia festa. Vinham os filhos, netos, amigos que iam se sentando e se servindo. Só não podia ocupar o lugar do vovô. Era uma tradição, uma delícia, um prazer.
Eu morei com eles durante dois anos e meio quando estudei na EESC. Muitas vezes voltava neste horário para casa só para participar, mesmo que depois tivesse que caminhar de volta os 20 quarteirões que separavam aquela mesa farta da Universidade.
Ninguém se atrevia a fazer café pela minha avó. Não que ela não deixasse, mas era muito difícil imitar a delícia de sabor que ele tinha.
Um dia, logo depois do jantar, meu avô sentenciou: 
- Lilia, hoje eu quero tomar um café feito por você.
Entrei com pânico. Tentei argumentar que na casa da minha mãe eu saberia fazer, pois a medida da água estava marcada na panela de ferver a água. Mas ele não aceitou o argumento. Eu não sabia se chorava ou se fugia. Minha tia Letícia, irmã mais velha da minha mãe, me salvou daquela situação. Ela me ensinou o que hoje chamo de "receita universal de um bom café". É assim: para cada copo americano de água coloque uma colher de sopa bem cheia de pó. E assim foi feito. 
Meu avô pareceu surpreso quando experimentou. Recebi até um elogio:
- Você já pode casar.
Até hoje uso a receita quando precisa fazer café em algum lugar.
Simples, fácil, prático e não tem erro.

Lilia Maria

sábado, 10 de agosto de 2013

Poesia por um triz

Se falta inspiração
Para o próximo poema,
Junto o papel e a caneta,
Deixo a mão correr solta,
E de repente a ideia se assenta.
Às vezes a rima é certa,
Às vezes é o ritmo que predomina,
Do poema sai a cantiga,
A cantiga, versos solicita.
E assim vai,
E assim fica.

Lilia Maria

Recordar é preciso

Cheiro de capim molhado
Parece um fino perfume
Quando o olor invade a narina
Ansiosa por colher olfativas lembranças
Que na infância se guardou.

A felicidade expressa
No sorriso sincero das crianças
Parece que volta depressa
Quando se resgata das dobras do tempo
Pedaços da infância que lá ficou.

Lilia Maria

A moça que não queria dançar.

Volta e meia meu pai conta e reconta suas histórias. Às vezes não tem nenhuma graça, mas de vez em quando vem uma pérola.
Hoje ele contou a história de uma moça italiana que ia a bailes e nunca queria dançar. Quando ele começou a falar achei que ela era tímida e, assim como eu, não sabia dançar. Mas no caso o problema era outro e ela fazia questão de explicar ao "dar tábua".
Vou tentar reproduzir o jeito dele falar imitando a senhorita:
- Io no danço perque si danço, canso. Se canso, suo e se suo, fêdo.
Aqui escrito não tem graça, mas contado por ele é de dar muita risada.


Lilia Maria

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Poetizando XX

Se o mundo é uma aldeia,
A cidade virou oca,
Onde todos se encontram
Mesmo sem sair da toca.

Lilia Maria

Óbvio

Não tem dia,
Não tem hora,
A vida é agora.

Lilia Maria

Poetizando XIX

Ele reclamou que os lábios estavam salgados...
Ô homem desatento!
Os olhos estavam vermelhos de tanto chorar...

Lilia Maria

Poetizando XVIII

Das estrelas da minha constelação
A mais brilhante
Está mais distante
Dos olhos
E do coração.

Lilia Maria