quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O café nosso de cada dia

Na casa dos meus avós maternos três horas da tarde era sagrada. 
Um pouco antes deste horário minha avó Maria ia para a cozinha. Pouco depois o perfume do café se espalhava no ar. A mesa ia sendo posta entre a água borbulhar na panela e o líquido escuro e fervilhante escorrer pelo velho coador de tecido direto para o bule. Bolo, pão caseiro, manteiga, biscoitos, xícaras, tudo era cuidadosamente colocado à mesa esperando a hora de serem consumidos.
Parecia festa. Vinham os filhos, netos, amigos que iam se sentando e se servindo. Só não podia ocupar o lugar do vovô. Era uma tradição, uma delícia, um prazer.
Eu morei com eles durante dois anos e meio quando estudei na EESC. Muitas vezes voltava neste horário para casa só para participar, mesmo que depois tivesse que caminhar de volta os 20 quarteirões que separavam aquela mesa farta da Universidade.
Ninguém se atrevia a fazer café pela minha avó. Não que ela não deixasse, mas era muito difícil imitar a delícia de sabor que ele tinha.
Um dia, logo depois do jantar, meu avô sentenciou: 
- Lilia, hoje eu quero tomar um café feito por você.
Entrei com pânico. Tentei argumentar que na casa da minha mãe eu saberia fazer, pois a medida da água estava marcada na panela de ferver a água. Mas ele não aceitou o argumento. Eu não sabia se chorava ou se fugia. Minha tia Letícia, irmã mais velha da minha mãe, me salvou daquela situação. Ela me ensinou o que hoje chamo de "receita universal de um bom café". É assim: para cada copo americano de água coloque uma colher de sopa bem cheia de pó. E assim foi feito. 
Meu avô pareceu surpreso quando experimentou. Recebi até um elogio:
- Você já pode casar.
Até hoje uso a receita quando precisa fazer café em algum lugar.
Simples, fácil, prático e não tem erro.

Lilia Maria

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