quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Conto de inverno

Mesmo dentro de casa, enrolada na manta quentinha, sinto frio. Olho a lareira acesa, as brasas exalando calor e o suave perfume do pinho queimado. Fecho os olhos e me lembro de outros tempos, do fogão de lenha no canto da cozinha, do estalido da madeira seca, das panelas fumegantes e perfumadas, do cheiro bom do pão caseiro assado pacientemente para o prazer do paladar do meu avô. Vovó fazia tudo com amor.
De repente percebo que o frio não vem lá de fora. Ele está aqui dentro de mim. Dentro do meu coração vazio. Não adianta a manta, o fogo da lareira, a taça de vinho. Estou carente de emoção, mas as lembranças da velha infância, das férias passadas no sítio ou na casa dos meus avós, acabam aquecendo a alma.
Como era bom ser criança! Não havia preocupação com o futuro nem lembranças amargas do passado. Era só a alegria dos encontros em família, das noites de conversas infindáveis com meus primos contando as travessuras que fazíamos na escola.
Quantos segredos guardados! Éramos felizes e sabíamos.
Não, não somos hoje infelizes. Temos histórias para contar. Feliz daquele que viveu a vida de uma forma tão intensa. Acumulamos boas lembranças e amigos que nos acompanharão para sempre.
Sinto-me aquecida de novo. Já posso dormir em paz.


Lilia Maria

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