quarta-feira, 26 de outubro de 2011

André Castiglione - Quimera

Lembro-me, ainda menina, escutar enternecida minha avó contando do irmão poeta, falecido aos 24 anos, que em seu leito de morte teria composto um dos sonetos mais belos que já li.
Lembro-me também, na adolescência, ensaiar escrever alguns versos, mas que nunca mostrei a ninguém. Não acreditava que pudesse ter o talento daquele que me encantava a cada vez que lia "Quimera".
A sua bênção meu tio! Que Deus o ilumine seja lá onde esteja.

Lilia Maria


Quimera

Todo meu sonho há sido uma quimera,
Minha esperança fora uma ventura,
Sonhei, amando a própria desventura,
De mais tarde voltar a primavera

Ah! quanto me enganei, tão louco eu era,
Doce julguei a existência dura,
E longe de pensar na sepultura,
Zombei de quem a sorte não venera.

Chegou o meu tempo e agora me convenço,
Que à parte dos felizes não pertenço,
Nem sonho mais da vida a liberdade.

E as ilusões que partem tristemente,
Dizem-me a soluçar com voz plangente:
-Morre a quimera? nasce uma saudade.

André Castiglione
1916

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