Matemática
Moderna incita à subversão
Entre
os meus “guardados” encontrei um pequeno recorte de jornal de 1980. Creio que
quem me enviou não se ateve muito ao conteúdo. A intenção era fazer uma
brincadeira, já que o meu pai sempre me chamava de comunista. O título do
artigo é o mesmo do “post” e o conteúdo é o que segue:
A
ideia de subversão pelo ensino de matemática moderna já havia surgido há alguns
anos e volta à baila através de duas revistas argentinas, tendo como origem
geográfica sempre a mesma província de Córdoba,
Segundo
a revista “Science for the People” (março/abril, 1980), as autoridades
provinciais baixaram um novo decreto proibindo o ensino de matemática moderna
na província. As razões são as seguintes: seus postulados estão a favor da
lógica formal e favorecem a geminação de uma ideologia subversiva cuja
linguagem utiliza palavras “matriz” e “vetor”, consideradas pelas autoridades
“tipicamente marxistas”. A “pior” das palavras é “conjunto” por evocar a
reunião, a coletividade, a massa!
Decididamente
a matemática moderna consegue desagradar a gregos e troianos. Na Rússia ela é
considerada muito burguesa.
O
ensino da Matemática sempre foi uma grande preocupação para os educadores.
Antes de 1950, os professores desta disciplina ocupavam-se com os cálculos
aritméticos, as identidades trigonométricas, problemas de enunciados grandes e
complicados, demonstrações de teoremas de geometria e resolução de problemas
sem utilidade prática. No início da década de 60, ocorre uma mudança, influenciada
por uma discussão internacional acerca de uma nova abordagem para o ensino de
Matemática. Este Movimento internacional torna-se conhecido como Movimento da
Matemática Moderna (MMM).
Quando
ingressei no antigo ginásio, em 1964, a maioria dos professores de matemática
do estado de São Paulo estava comprometida com a mudança de curso do ensino
dessa disciplina. Dentro do MMM, a construção do conhecimento matemático era
feito a partir dos conceitos básicos da Teoria dos Conjuntos. A crítica que
sempre foi feita a este método de ensino é que os conceitos são muito abstratos
e que levam a um formalismo matemático desnecessário no ensino básico.
Muitos
anos depois, já formada e trabalhando em sala de aula, tornei-me uma defensora
feroz da continuidade dos preceitos fundamentais do MMM. A construção da
matemática a partir da lógica embutida na Teoria dos Conjuntos, a meu ver,
tornava claro muitos dos conceitos que antes eram decorados. O problema não era
o que se ensinava, mas como se ensinava. Conceitos abstratos podem ser
facilmente absorvidos quando se parte do concreto para a generalização.
Pensando
nas experiências que os alunos deveriam ter para sair do concreto para o
abstrato, em 1985 tentei criar na escola em que era titular, um “laboratório de
matemática”. A ideia era que os alunos fizessem experiências ou que
participassem de brincadeiras para depois, refletindo sobre a atividade,
construíssem definições e conceitos.
Meu
experimento durou exatamente dois dias. A diretora da escola, alegando que os
alunos faziam muito barulho, proibiu a atividade. Conversando depois com os
meus colegas, eles disseram que na sala de aula não se escutava o que estava
acontecendo no pátio. Insisti com a diretora dizendo que o barulho não estava
incomodando o andamento das outras aulas. Aí ela “disparou”:
-
Incomoda a mim... Menina! Aprenda: escola só é boa quando não tem aluno dentro!
O
choque foi tão grande que a partir deste dia decidi buscar outros horizontes.
Apenas
para encerrar, 1964 foi o ano do golpe militar. Se a matemática moderna era
subversiva, obvio que aqui no Brasil, mais cedo ou mais tarde, ela deixaria de
ser ensinada ou então, seria ensinada, mas não de forma adequada. Um assunto a
se pensar...
Lilia
Maria